sexta-feira, 1 de julho de 2016

Parte 2 - Capítulo 18

-Do que você me chamou? - ela perguntou se afastando e eu nem sabia como me desculpar.

-Me desculpa, eu... -olhei pra cima buscando palavras, mas elas não viam, elas definitivamente não existiam - Eu estou errado - confessei a encarando, e seus olhos já estavam marejados.

-Eu estou tentando entender Luan, mas está difícil. - ela confessou, com a voz embargada.

-Me desculpa vai..

-Eu acho melhor eu entrar. - disse se dirigindo a escada, para poder sair da piscina.

-Espera, Mari.. - tentei ir atrás, mas ela relutou.

-Não! Me deixa sozinha! - disse andando mais rápido, e eu me senti um completo idiota.

Aquele deslize custou nosso resto de final de semana, e ela quis ir embora domingo de manhã. Tentei algumas vezes me aproximar durante a noite anterior, mas ela não deixava. Sua feição triste, acabou comigo, e eu me culpei o tempo todo. Burro, mil vezes burro.

Voltamos para São Paulo e o clima continuava pesado, até Luana percebeu, inclusive, tentou quebrar o gelo, mas não adiantou. Mariele estava calada, e eu nem conseguia decifrar seus olhos, já que ela não tirava os óculos escuros por nada.

-O que foi que aconteceu, pai? - Luana me perguntou, preocupada.

-Coisa de adulto, filha - peguei em sua cabeça e ela não insistiu, só ficou olhando para a madrasta quieta encostada na janela do carro. Ela sabia que Mariele não era assim.

Chegamos em casa perto do meio dia, e Mariele foi direto para o nosso quarto. Respirei fundo e fui atrás, não queria continuar daquele jeito com ela. Ela percebeu que eu a seguia e então não fechou a porta do quarto - deixando esse serviço pra mim, que o fiz assim que passei pela porta também -. Primeiro ela tirou o óculos e colocou em cima da escrivaninha. Se sentou na cama e se livrou dos sapatos.

-Podemos conversar? - perguntei me aproximando, e ela continuou calada. - Eu sei que tem todo motivo pra ficar magoada, mas não precisa de tanto...

-Luan, só me responde uma coisa - ela disse séria, se virando para mim. - Você gosta mesmo de mim?

-É claro que sim Mari, eu amo você.

-Ama mesmo? - insistiu e eu me aproximei.

-Eu sei porque está me perguntando isso.. e eu não vou mentir, a Ana sempre vai ser importante pra mim - confessei e ela tornou a encher os olhos de lágrimas. - Mas eu não quero te machucar, não chora vai...

-Já era Luan.. - ela disse sem me encarar - Vai atrás de alguma coisa pra Luana comer e me deixa sozinha, por favor - disse baixinho e eu não insisti. Saí a deixando quieta.

Minha consciência estava pesando de um jeito que não sou capaz de explicar. Eu estava me sentindo a pior pessoa do mundo. Deus é testemunha, de que eu nunca quis magoar a Mari, mas eu não pude evitar, essa gravidez mexeu com minhas lembranças e elas eram mais fortes do que eu. Desnorteado, liguei para o meu psicólogo, prometendo pagar o dobro, se ele me atendesse naquele dia, quem sabe ele pudesse me ajudar a concertar essa situação.

-Não estou em São Paulo, Luan.. Se não te atenderia sem problemas. - ele explicou e eu fiquei agoniado. - Posso tentar te ajudar por telefone, percebo que algo te incomoda só pela sua voz..

-Sim doutor, eu estou aflito.. Chamei Mariele de Ana e ela está uma fera comigo.

-Com razão, ela se sente insegura, e pela gravidez, todos os sentimentos dela acabam sendo mais intensos.

-Não sei o que faço pra tentar me redimir.

-Não faz nada, dá um tempo pra ela..

-Mas...

-Mas nada Luan.. Não tem como você forçar.. Dá um tempinho para ela, e quando ela estiver mais tranquila vocês conversam. - disse como se esperar ela ficar tranquila, fosse a coisa mais simples pra mim - O que você precisa fazer é tentar focar no mundo real.. Seu passado está interferindo no seu presente. Seu trauma trouxe a sua antiga esposa para realidade, que ela não faz mais parte.

- Eu amo muito a Ana. - confessei quase que em um sussurro.

- E não precisa deixar de amar, mas a sua vida precisa seguir.. Não gosta da sua esposa?

-É claro que sim.

- Eu acredito nisso, caso contrário, por que teria se casado não é verdade? Espera o clima esfriar um pouco e conversa com Mariele de novo. Não explica nada, só se desculpa, e aos poucos, tenta apagar Ana da realidade.

-Vou tentar.

-É pouco. Você precisa conseguir, ou então.. vai acabar virando um homem divorciado - disse sincero e eu concordei, ele tinha razão.

Mariele Andrade

Eu estava desolada, e não era por ter sido chamada de Ana, era por estar reconhecendo que Ana sempre seria a única mulher da vida do Luan, enquanto eu estava ali servindo como alguém que o tirava do tédio de vez em quando. Meu coração apertava ao reconhecer que talvez, eu e ele não daríamos mais certo. Não importa as saídas que eu tentasse traçar na cabeça, eu ainda sentia que não ia dar certo, e ponto final.

Como minha cabeça não estava me ajudando, resolvi sair de casa, precisava espairecer, precisava ouvir alguém, e pensando nisso, fui atrás de Tanara. Mandei uma mensagem para saber se ela estava em casa, e assim que obtive sua resposta positiva, saí com a mesma roupa que havia chegado de viagem e fui ao seu encontro, sem nem Luan ficar sabendo.

-Pensei que estava em Porecatu - Tanara disse assim que abriu a porta - Que cara é essa, amiga?

-Eu estou péssima - confessei já começando a chorar.

-O que foi, mana? - perguntou me abraçando e me puxou para dentro de sua casa.

-Tá sozinha?

-Estou, vem. Vamos conversar - disse me puxando até o sofá, e então tirei os óculos, entregando meus olhos vermelhos, de quem já tinha chorado muito.

-Luan não me ama.. Ele nunca amou - disse em prantou e ela me abraçou, tentando me acalmar - O amor da vida dele sempre vai ser a Ana, eu tô amando sozinha..

-Me explica o que aconteceu, mana. A gravidez deixa a mulher sensível. - disse com calma. Eu havia contado para Tanara sobre a gravidez por mensagem um pouco antes de fazer 2 meses, e desde então não tínhamos nos visto como estávamos nos vendo hoje

- Não é só sensibilidade, tenho todos os motivos para estar magoada. - disse tentando controlar o choro - Mas tudo começou a um tempo atrás, quando Luan não parava de falar da Ana.. Tudo era ela, amiga. Parece que eu nem existia mais para ele.

-E isso começou quando?

-Depois que descobri que estava grávida.. - disse me acalmando - No começo eu entendi que o fato de eu engravidar trouxe o trauma dele a tona, mas com o passar do tempo, foi ficando difícil de engolir. Até fui paciente e companheira, quando o vi cantando Ana Julia e chorando no nosso quarto, mas ouvir ele me chamando de Ana, foi o estopim. Não sou capaz de entender, muito menos de aceitar. Eu não quero amar sozinha amiga.. eu.. vou abrir mão do Luan..

-Amiga, espera.. Você tá tomando uma decisão de cabeça quente. Está agindo como se o Luan não sentisse nada por você, mas sabemos que não é bem assim. Ele se casou com você..

-Isso não quer dizer nada.

-É claro que quer dizer, Mari.. Ele não se casaria contigo por conveniência. E poxa, dá um desconto para o garoto, só ele sabe o que ele teve que passar a anos atrás, é normal que ele esteja lembrando da Ana.

-Eu pensei que me entenderia - disse choramingando.

-E te entendo amiga, mas não posso deixar você abrir mão assim..

-Isso tá acabando comigo, Tatá. Uma coisa é ele ter medo de me perder como perdeu a Ana.. Outra bem diferente, é ele só pensar nela, e esquecer que eu existo.

-Amiga, não seja tão rude..

-Estou sendo realista.

-Então faz diferente. Dá um tempo para ele tentar superar isso, e um tempo pra você tentar entender tudo.

-Talvez você esteja certa.. - suspirei - Acho que é de um tempo que nós precisamos mesmo.. Mas não vou ficar naquela casa enquanto isso - disse convicta e Tatá me encarou séria.

-Não faz isso amiga.

-Deixa ele sozinho com as lembranças dele, do jeito que ele quer - disse ainda sentindo um aperto enorme no peito. Um tempo seria a melhor saída para nós dois.

Luan Rafael

Fiz um almoço simples, seguindo as instruções de um site da internet. Como voltamos antes do previsto, nossa empregada estava de folga, e pela situação, eu tive que me virar. Por sorte não queimei nada e talvez só não estivesse bem temperado, mas eu tentei. Depois que desliguei todos os fogos, chamei Luana para comer e ela reclamou que estava mesmo morrendo de fome.

-A tia Mari não vem comer? - ela perguntou.

-Eu vou levar pra ela - disse sorrindo pra minha filha, achava lindo ela preocupada com a madrasta.

-Ta tudo bem?

-A gente discutiu, mas  vai ficar tudo bem - sorri, torcendo para que ficasse tudo bem mesmo.

Ajudei Luana a se servir e depois montei um prato para levar para Mari, torcendo para que ela comesse, até porque ela comia por dois. Com um pouco de receio, subi as escadas, já me preparando para ser torturado com a imagem dela chorando, ou simplesmente cabisbaixa. Abri a porta devagar, e com cuidado para não derrubar o prato. Para minha enorme surpresa, ela não estava ali.

-Mariele? - entrei a chamando e após verificar no banheiro, percebi que ela não estava ali. Será que ela saiu e eu nem vi? Pela janela do quarto, constatei que ela tinha mesmo saído, já que o carro não estava na garagem. Fiquei preocupado. Será para onde que ela foi? Coloquei o prato na escrivaninha do quarto e liguei para Tanara, a primeira pessoa que veio na minha cabeça.

-Sim Luan, ela está aqui.

-Ela está perto de você?

-Não, foi ao banheiro..

-Conversa com ela direitinho Tatá, e  faz ela comer alguma coisa.. ela não comeu nada hoje.

-Pode deixar, dou meu jeito.

-Obrigado - disse por fim, desligando o celular, mas calmo em saber que ela estava segura.

Sentei na nossa cama e apoiei a cabeça nas minhas mãos. Era culpa minha aquela situação, era tudo culpa minha. Angustiado, me lembrei de uma caixa que estava escondida dentro do guarda-roupa, com algumas coisas da Ana. Nem sei porque lembrei dela, mas assim que pensei na tal caixa, quis pegá-la.

A caixa era cor de rosa, enfeitada pela própria Ana. Dentro dela, Ana guardava algumas coisas, como algumas cartinhas de fãs. Além disso, era aonde ficava seu diário, que ela escreveu mais durante a gravidez - pelo menos era quando eu lembrava de vê-la escrevendo. Eu nunca tinha parado para ler tudo que ela havia escrito naquele diário, lembro que depois que ela faleceu, li algumas coisas, mas ele todo ei nunca tive a oportunidade, e também não seria agora. Mesmo assim, algo me chamou atenção dentro dele. Era uma folha dobrada em três partes. Curiosa eu abri o papel, e me deparei com uma carta escrita pela própria mãozinha de Ana.


Eu nunca levei jeito para escrever cartas, e por isso, nunca o fiz. Agora que estou grávida, e consequentemente mais sensível, decidi tentar pela primeira vez, depois de ler algumas cartinhas que recebi das fãs do meu marido. 
Admiro demais o amor que elas sentem por ele, e principalmente, o amor que vejo que ele sente por elas. Essa troca de amor verdadeiro é de encher meus olhos, e eu inevitavelmente me lembro de quando eu era adolescente. Eu nunca fui fã de nenhum artista e meu negócio era curtir com minhas amigas. Gostava de farra e gostava do gostinho do poder que tinha, ao ficar com quem eu quisesse.. Isso mudou quando conheci o Luan, é claro. A princípio tudo estava igual, sob controle, mas uma hora a gente leva uma pancada forte desse tal de amor. Hoje, eu não me imagino sem ele, e acho que talvez ele nem tenha noção do quanto eu o amo.
Dizem que a pessoa certa é aquela que te deixa livre para ir onde você bem quiser,
e por isso, se por acaso eu morrer antes dele, eu não quero que ele se prenda a mim, não quero que lembre sempre de mim, não quero que tenha medo de se apaixonar de novo, porque aonde quer que eu esteja, vou querer que esteja feliz, e que ele se permita isso, até porque, se isso acontecer mesmo, eu vou ser apenas uma página do seu livro, e ele vai precisar de mais algumas..
Bom, minha primeira carta acabou sendo um pouco dramática, do jeito que eu naturalmente sou, mas é bom deixar registrado que Luan mexeu comigo, que ele me ajudou, e tem me ajudado desde que nos conhecemos. Me amando, Luan me tornou mulher de verdade. E eu serei eternamente grata. Essa carta, vai servir para eu nunca me esquecer disso.

Notas da Autora:

Sem texto no final desse capítulo, que fique só a carta da Ana como reflexão.. Vocês acham que isso vai fazer diferença para o Luan? Acham que tem saída para nosso casal, ou concorda que um tempo agora é a melhor saída?

3 comentários:

  1. Gente do céu, Luan tem que tomar prumo urgente, pq se não vai dar merda.
    Continuaaa

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  2. Aí não quero que Mari saia de casa tadinha :(

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  3. Aí gente tudo tão difícil. Espero que com essa carta Luan reflita.

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