sexta-feira, 1 de julho de 2016

Parte 2 - Capítulo 13

Mariele Andrade

Ainda estava muito chateada com Luan, pensei em voltar sozinha pro Brasil, mas ele pediu que eu ficasse. Poxa, era o Grand Canyon, e eu queria muito conhecer. Como esperado, o lugar era incrivelmente lindo e eu fiquei encantada, confesso que no fundo desejava que eu e Luan estivéssemos bem, mas não ia voltar atrás, já que ele quem estava errado. Tudo bem que ele chegou a pedir desculpa, mas eu não podia perdoá-lo tão rápido, sempre fazia isso, e era bom dá um gelo nele. Porém não foi fácil, ele jogava muito sujo, e ficava postando coisas fofas em seu instagram, que me deixavam boba, já que eu sou boba demais mesmo. Mas fui forte, só ri, mas fiquei quieta.

-Vou tomar banho primeiro - disse assim que entrei no quarto e já fui pegando minha toalha.

Sentia meu estômago embrulhando e queria tomar um banho rápido para deitar e descansar. Liguei o chuveiro e até então tudo normal, apesar do enjoo muito forte. Lavei meu cabelo e comecei a me ensaboar, o sabonete escorregou da minha mão e eu abaixei para pegar. Quando levantei, comecei a ficar tonta, de um jeito diferente da última noite. As coisas pareciam está rodando em minha volta, e eu não vi quando caí no chão, desmaiada.

Quando acordei, Luan estava sentado ao meu lado, com os olhos arregalados, com as mãos em meu ombro. Perdida, e sem conseguir me lembrar direito o que tinha acontecido, perguntei para ele, o que tinha acontecido..

-Eu que te pergunto.. você desmaiou. - ele disse- O que foi? Tá sentindo algo?

-Não sei, estou confusa, só sei que me deu uma tontura muito forte - reclamei, me sentindo fraca, enquanto ele vestia um vestido em mim.

-Papai? - Ouvi a voz de Luana. Luan devia está falando com ela por skype, e acabou esquecendo ela ali, pra ver o que tinha acontecido comigo.

-A Mari desmaiou, eu vou levar ela no hospital, depois falo com vocês - disse rápido, nervoso e foi desligar seu computador.

-Não precisa me levar pro hospital, vai passar, foi igual ontem. - eu disse já começando a me sentir um pouco melhor, apesar do enjoo ter voltado.

-Não, a gente vai no hospital sim, agora mesmo. - disse convicto e nervoso, me sentando na cama e ficando atrás de mim - Me desculpa meu amor, não queria te causar isso - falou com a voz preocupada, enquanto fechava o zíper do vestido por trás.

-Não é culpa sua... - disse me sentindo mal, por ter o feito pensar dessa forma.

-É sim, tudo minha culpa - suspirou meio tenso e se levantou, abrindo minha mala atrás de um sapato.

Ele pegou o primeiro que viu, colocou em meus pés, pegou um casaco que estava em cima da outra mala, e depois saiu pegando suas coisas, me chamando pra ir com ele. Parecia que eu era uma criança, tamanha sua preocupação comigo. 

-Eu tô melhorando Luan, não precisa mesmo disso - disse quando ele abriu a porta do carro e ele sequer me respondeu.



Ele ligou o GPS no celular e procurou o hospital mais perto. Ele dirigia tão rápido, que chegamos logo no hospital, e eu já nem falava mais nada, já estávamos ali mesmo... Entramos na recepção e ele fez minha ficha, ainda me abraçando de lado. Diferente dos hospitais do Brasil, logo fui chamada, e a enfermeira pediu que ele ficasse me aguardando ali. Nervosa e com medo, fui em direção ao consultório do médico.

-Boa noite - o cumprimentei em inglês e ele gentilmente me respondeu, perguntando o que eu estava sentindo - Ultimamente ando tendo algumas tonturas, e hoje acabei desmaiando.

-Está tendo enjoos?

-Um pouco.

-Muito sono? Desejos? - perguntou e na hora eu ri, sabendo o que ele estava pensando.

-Sim, mas não estou grávida, eu.. tive meu ciclo menstrual normal esse mês.

-As mulheres costumam ter sangramento quando estão grávidas. É totalmente normal - ele falou me pegando de surpresa - Uma vez fecundado o óvulo por um espermatozoide, o embrião percorre as trompas e se implanta na parede do útero em 6 a 12 dias. Esta implantação pode causar um pequeno sangramento uterino, que muitas vezes é confundido com a menstruação que está pra chegar - me explicou e eu arregalei os olhos.

-Minha nossa - falei em português boquiaberta.

-Brasileira? - o médico perguntou, no mesmo idioma e eu assenti, ainda meio pasma.- Eu também sou - sorriu, e voltou a me explicar a situação - Então vou falar no seu idioma, a implantação do ovo no útero é apenas uma das várias causas do sangramento vaginal na gravidez. Algumas grávidas apresentam esse sangramento durante o primeiro trimestre da gestação - me explicou enquanto eu ainda o encarava. - Em relação ao desmaio, é normal também, você provavelmente teve uma queda de pressão.

-Então eu posso mesmo está grávida? - perguntei desnorteada.

-É o que vamos ver, posso examiná-la? - pediu e eu assenti, pensando naquela hipótese.

Ele me direcionou até uma sala de ultrassom e logo começou o exame, que deu a certeza do que ele desconfiava. Eu estava mesmo grávida, esperando um filho do Luan, que estava com quase um mês. Quando ele me disse isso, senti os olhos enxerem de lágrima, agradecendo a Deus por aquele presente. Tinha planos de ter filhos, não por agora, mas estava imensamente feliz com a notícia.

-Podemos contar pro meu marido? - perguntei sorrindo e ele assentiu, também sorrindo.

-Claro que sim, vamos lá no consultório que eu vou pedir pra chamá-lo, será que ele vai gostar da notícia? - perguntou tirando as luvas e eu assenti. É claro que ele gostaria. Na realidade, eu até tinha me esquecido do trauma que ele tinha passado.

Voltamos pro consultório do doutor e logo Luan entrou ali, tão pálido que eu estranhei, devias ser por está preocupado comigo..

-Fiquei sabendo que são brasileiros, eu também sou - o médico falou e Luan sorriu de lado, apertando sua mão.- Muito prazer.

-Prazer é meu - ele disse sério, estava muito estranho

-Temos boas notícias - o doutor sorriu e eu encarei Luan da mesma forma, que me olhou curioso -Sua esposa teve uma queda de pressão mas não é nada grave. Ela está grávida! - disse sem delongas e Luan, que já estava branco, começou a respirar com dificuldade.

-Amor? Tá se sentindo bem? - perguntei preocupada, me levantando e segurando suas mãos, que suavam frio. Ele me encarava sem expressar nenhuma reação ou simplesmente dizer alguma coisa. Meu sorriso se desfez na hora - Luan, fala alguma coisa - disse passando a mão em seu rosto.

-Tá sentindo alguma coisa? - o médico perguntou preocupado.

-Luan...- voltei a chamá-lo e ele continuava estático, como uma múmia.- LUAN - falei mais alto e ele parece que nem estava ali... - Escuta amor, só escuta..Você não precisa ficar com medo, não vai acontecer nada comigo..- falei baixo, mas pra ele ouvir..- Luan por favor - pedi preocupada e ele então, finalmente, ele olhou pra mim.

-Eu...- começou a falar devagar - A gente sempre quis ter um filho, ela desanimava quando a menstruação descia e chorava quando ficava com expectativa e o exame dava negativo - começou a falar muito rápido e eu sabia que ele falava da Ana - Mesmo assim quando ela engravidou levei um susto - sorriu de lado e eu não quis interromper. O médico assistia tudo sem entender coisa alguma. - A gente nunca sabe o dia de amanhã - disse pensativo.. - Bom, vamos? -me encarou sério e eu assenti.

-Muito obrigada doutor, e me desculpa qualquer coisa - me virei pro médico e apertei sua mão - Vamos Luan - segurei no braço dele e fui andando com ele em direção ao carro.

Na minha cabeça, aquela reação do Luan ia passar uma hora, era só eu ter paciência, estava muito feliz e agradecida.. Eu ia ser mãe.

Luan Rafael 

Depois de receber a notícia que Mariele estava grávida, não consegui pensar em nada, a não ser no risco que ela corria. Como um filme, comecei a me lembrar de Anda, das nossas noites íntimas, do jeito que ela me tocava, do jeito que eu a beijava, do cheiro que ela usava.. Me lembrei das vezes que ele trocou de roupa na minha frente enquanto eu a olhava admirado, como se ela fosse uma obra de arte. Depois me lembrei da expectativa de engravidar que ela tinha e como foi dolorido pra nós quando víamos que não dava certo. Odiava ver ela chorando, triste... E pensar que ele nem soube o que era ser mãe.. 

Nem sei quando tempo fiquei ali parado, voltando no tempo. Estava me sentindo estranho, e as lembranças vinham cada vez mais fortes. Mari não quis deixar eu dirigir e eu preferi assim, apesar de continuar lembrando de Ana Julia.. 

FlashBack

Eu e Ana estávamos dando um tempo, mas ela tinha deixado eu voltar pra casa. Éramos dois implicantes, e talvez eu fosse mais. Mesmo sabendo que nosso problema era o fato de eu sair sem ela, decidi ir pra uma balada com o Rober, por pura provocação.. sem esperar que a encontraria como encontrei quando cheguei. 

A balada em que fomos era sossegada. Arranjaram um lugar tranquilo pra que eu ficasse e curtisse, mas longe da minha Ana era praticamente impossível, e isso fez eu querer ir embora logo naquele dia.

Primeiro deixei o Rober na casa de uma amiga e fui pra minha, dirigindo bem devagar, pra não transparecer que eu não tinha me divertido, o que era verdade, mas ela não precisava saber.

Abri a porta com cuidado, não sabia as horas mas pelo silêncio, Ana já estaria dormindo. Tranquei a porta e subi as escadas devagar, indo pro quarto de hóspede, que era meu novo quarto, mas antes, não resisti em ir  vê-la. Foi então que levei um susto, ao abrir a porta do nosso quarto,  me deparei com uma cena que me deixou com o coração na mão. Ela estava desmaiada.

Fiquei desesperado, preocupado e perdido, mas tentei manter o controle. A única coisa que eu conseguia pensar, é que precisava levar ela ao hospital, e foi o que eu fiz. Peguei ela no colo e fui em direção ao carro, pedindo ajuda de Deus pra que não fosse nada grave. Mil coisas horríveis passavam em minha cabeça e pior, eu me sentia culpado.

Deitei ela no banco de trás e fui em direção ao hospital mais perto, dirigindo igual um louco, até avançando um sinal vermelho. Quando chegamos eu olhei pra trás e fiquei aliviado ao ver que ela tinha aberto os olhos.  

-Ainda bem que você acordou, a gente chegou no hospital, me fala o que está sentindo? - perguntei.

-Fraqueza.

-Vem, vamos entrar - falei saindo do carro e abrindo a porta de trás pra ajudá-la a levantar. Outra vez peguei ela no colo e entrei no hospital, sem pensar em nada.

Logo fomos atendidos, e o  médico nos levou pra uma sala, perguntou o que ela estava sentindo e só então eu soube da história: ela tinha ficado tonta e desmaiou. O doutor pediu pro Luan me deitar na cama perto de um monitor e assim o fiz.

-O senhor acha que é sério, doutor?- perguntei preocupado segurando a pequena mão da Ana. 

-Acho que não - começou a mexer em um aparelho e eu olhei pra Ana, que sorria de lado. Só ela pra sorrir num momento desse - Levanta a blusa pra mim por favor? - Levei um susto com o pedido do médico e foi inevitável não fechar a cara. Ana percebeu na hora e segurou a minha mão,chamando minha atenção, e quebrando meu coração com um sorriso, fazendo eu sorrir também  - Pois bem, aí está o motivo do seu desmaio - o médico falou e apontou pra tela, no mesmo instante Ana começou a chorar. 

-O que foi? Não estou entendendo nada - encarei o médico;

-Sua esposa está grávida. Parabéns papai - falou de uma vez e eu fiquei boquiaberto. 

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Chegamos no hotel e só então percebi que Mariele estava sorrindo de orelha a orelha. Como eu queria sentir a mesma felicidade que ela, mas a única coisa que eu conseguia sentir era medo. Muito medo. 

-Eu estou ansiosa pra contar pra minha mãe - ela disse animada - Vamos voltar amanhã? - ela pediu e eu assenti, talvez fosse melhor mesmo.

Primeiro avisei os meninos que eu e Mari voltaríamos antes do combinado e eles ficaram sem entender, não quis dizer nada e eles até quiseram voltar conosco, mas eu insisti pra que eles ficassem e aproveitasse tudo. Eles não questionaram. Depois disso fui atrás de comprar outra passagem e mesmo assim, ainda continuava pensando em Ana..

-Menino ou menina? - Mari perguntou encarando o teto e eu suspirei.

-Não sei.

-Menina ia ser bom pra brincar com Luana, mas eu sempre quis ter um menino - disse brincando com os próprios dedos. E eu fiquei calado. - Sei que não quer falar disso agora mas presta atenção.. - sentou-se na cama e me encarou - O que aconteceu com a Ana foi um acidente, a vontade de Deus. A gente não entende as vezes, mas Ele sabe de tudo. Sei que é algo que nunca será esquecido, mas temos que pensar positivo. Isso não acontece sempre, são casos e casos.

-Eu prefiro não falar disso.

-Tudo bem, espero a hora certa - sorriu e me chamou com a mão. Levantei e sentei na frente dela - Vamos mudar de assunto.. Eu não quero mais brigar contigo amor. Fico muito mal.. Quero que saiba que eu te amo mais do que tudo, e não importa se o Brad Pitt me olhar, eu não dou atenção porque só tenho olhos pra uma pessoa, que é você! - sorriu e eu assenti. Ela segurou meu rosto com as mãos e me deu um selinho, sorrindo entre nossos lábios - Eu te amo muito - sussurrou.

-Eu também te amo - disse a abraçando.




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