-O carro está destruído.
-Mas o que aconteceu, tia?
-O outro motorista avançou o sinal vermelho e bateu na lateral do carro, na lateral que ela estava.
-Será que estava bêbado?
-Eu não sei, ele fugiu do local.
-Já falou com o Douglas?
-Já, ele está a caminho.
Ouvia tudo em silêncio, e ao ouvir o nome do Douglas fui me lembrando de tudo. Nossa discussão, ele falando que amava outra, eu saindo chorando e depois o baque no carro. Enfim, tudo ainda era real na minha mente, e eu lutava pra abrir os olhos. Incomodada, resmunguei.
-Filha, ta tudo bem, a gente ta aqui - ouvi minha mãe, falando mais perto de mim. Devagar fui conseguindo levantar as pálpebras - Oh minha querida, que bom que você acordou - ela falou segurando minha mão e eu olhei minha amiga que estava ao lado dela. -Você lembra o que aconteceu? - perguntou e eu assenti, ainda me sentindo um pouco mole.
-Eu tô zonza - falei com dificuldade e ela passou as mãos no meu cabelo.
-É efeito do remédio - sorriu - Eu liguei pro Douglas viu? Ele está quase chegando. Seu pai também disse que vem. - assenti calada - Graças a Deus você está bem - sorriu com os olhos cheios de lágrimas e eu a olhei com afeto.
-Não faz mais isso - Tanara falou e eu a olhei desentendida - Não me assusta desse jeito - chegou mais perto e eu sorri sem mostrar os dentes.
Alguns minutos depois eu fui ficando mais alerta , o que significava que a medicação estava perdendo o efeito. Além disso, sentia o meu corpo dolorido. Minha mãe beijou minha testa avisando que ia sair pra que outra pessoa entrasse, e quanto eu vi Douglas passando pela porta senti meu peito apertar. Ele entrou no quarto com a cabeça baixa, e veio se aproximando da mesma maneira.
-Eu pedi pra você não sair nervosa - ele disse mais perto.
-Não tinha como sair calma depois de tudo que eu ouvi - disse com sinceridade e ele me olhou sem jeito.
-Eu quero te explicar tudo.
-Eu quero muito entender mesmo - falei o encarando, esperando ele criar coragem para começar.
Douglas sentou na cadeira ao lado e juntou as mãos, respirou fundo por alguns segundos e depois começou a me falar o motivo daquilo tudo.
-Eu não mentia quando dizia que te amava, eu te amei de verdade, mas talvez não tenha sido suficiente - eu percebi que ele estava sendo sincero, e sabia que ele tomava cuidado pra não me magoar. Porém era inevitável, e meu coração doía mais que o meu corpo por conta do acidente - Eu acho que a gente casou rápido demais.- tornou a falar e eu o interrompi.
-Você quem quis assim.
-Eu sei, eu meti os pés pelas mãos. Errei e acabei te magoando. - suspirou e encarou o chão outra vez - Eu não queria que fosse assim, Mari. Eu nunca quis te magoar - me encarou e respirou fundo - Quero que saiba que eu não te traí, e ficaria feliz se acreditasse nisso.
-Eu acredito - falei limpando as lágrimas que já caiam. - Mas... quero saber como isso aconteceu. Por que se apaixonou por outra? Eu fiz alguma coisa errada? Faltou alguma coisa no nosso casamento? - perguntei começando a chorar mais.
-Você é incrível, Mari - ele falou segurando minhas mãos. - O erro não é seu. Mas acontece que a gente não escolhe por quem se apaixonar, e aconteceu...
-Quem é? - perguntei instintivamente, com curiosidade.
-Ela é irmã de um amigo meu, nos vimos algumas vezes, e eu não sei como, acabei me apaixonando.
-Você já pretendia se separar?
-Não era justo com você, Mari. Eu sinto um carinho enorme por você, mas não é o que você merece.
-Na verdade, acho que o que sentiu nunca foi mais que carinho - eu falei e ele ficou calado. - Não tem como ter sido mais do que isso, porque se fosse, não teria acabado. "Não é o sentimento que se esgota, somos nós que ficamos esgotados de sofrer, ou esgotados de esperar, ou esgotados da mesmice"- citei um trecho de um texto da Martha Medeiros e ele preferiu continuar calado.
-Me desculpa por isso - ele ousou falar e eu limpei minhas lágrimas, olhando pra outro lado.-Eu vou estar ali fora se precisar - se levantou e saiu, enquanto eu comecei a chorar mais. Não é legal se decepcionar com as pessoas.
Meu corpo ainda doía e com isso eu me esforçava para não me mexer. Meu único esforço era em limpar minhas lágrimas que não paravam de cair. Respirei fundo e quando a enfermeira entrou pedi pra que ela me desse um copo com água. Ela assentiu dizendo que iria buscar e quando voltou, veio com o médico, que até então não tinha ido ali.
-Como se sente? - ele perguntou e eu limpei os vestígios de lágrimas.
-Com dor - fui sincera, sem dar muitos detalhes, até porque minha dor ia além do meu corpo.
-É esperável, foi uma pancada forte. A boa notícia é que fizemos uma tomografia e não houve nenhuma alteração neurológica. - falou e eu assenti.
-E com os outros órgãos, algum problema? - perguntei apoiando as mãos na cama para me sentar para beber a água que tinha pedido, quando percebi que não conseguiria levantar sozinha.
-Isso é o que eu quero testar agora, consegue se mexer? - perguntou ao me ver tentando levantar, o que era em vão.
-Sinto muita dor. - eu falei.
-Você sente isso? - segurou minha perna com força e eu assenti. - Mexe a perna esquerda pra mim - pediu e eu me esforcei para movimentá-la mas não conseguia, parece que me faltava forças - Mexe - ele tornou a pedir e eu tentei de novo, outra vez sem conseguir.
-Eu não consigo, doutor - falei começando a me desesperar.
-Tenta mexer a outra - falou e eu também não consegui.
-Doutor? - me desesperei ainda mais, começando a chorar. Ele olhou pra enfermeira que me encarou com uma cara de pena. - Alguém pode me falar o que está acontecendo? - perguntei nervosa.
- Está tudo certo com os seus órgãos vitais, mas na ressonância deu uma lesão na primeira vértebra , dentro da coluna lombar L1. - falou com calma e eu o encarei preocupada - Isso significa que você está paraplégica- falou de uma vez e meus olhos arregalaram. Comecei a chorar descompassadamente enquanto ele tentava me acalmar - Como você ainda tem sensibilidade, sua paraplegia é incompleta. - continuou dizendo enquanto eu continuava chorando - Mas fica tranquila, podemos tentar uma cirurgia para reverter isso e com algumas sessões de fisioterapia você pode voltar a andar - tentou me consolar mas tudo que eu pensava era que dependeria de cadeira de rodas, e teria minha vida toda mudada.
Luan Rafael
Estava em casa sem ter nada pra fazer e sozinho, já que minha filha tanto insistiu que a levei pra casa dos avós. Com isso, decidi fazer um churrasco de última hora e liguei pra alguns amigos. A maioria deles aceitou e eu comecei a arrumar tudo para recebê-los. Como Rober morava mais perto, o liguei pra que ele levasse umas cervejas, já que lá em casa não tinha muitas.
-Já está vindo, boi?
-Aconteceu uma coisa, Luan - ele disse meio tenso.
-O que foi?
-A Mari, ela sofreu um acidente, cara. Estou indo pro hospital agora - falou de uma vez e eu levei um susto.
-A Mariele? Mas o que aconteceu?
-Bateram no carro dela, eu não entendi direito. A Tanara me mandou um áudio desesperada pedindo que eu a levasse no hospital, mas o áudio chegou agora e ela já está lá.
-Mas ela está bem?
-Eu não sei, Luan. A Tanara não me atende. Ela está no Sírio Libanês caso você queira ir.. Vou desligar aqui,cara. Tchau. - disse por fim e desligou o celular, deixando meu coração apertado e preocupado.
Talvez eu não fosse a primeira pessoa que ela quisesse ver, mas por consideração eu achei que deveria ir visitá-la e sem pensar duas vezes cancelei o churrasco e fui até o hospital, até porque eu nem sabia em que estado ela estava, e era inevitável não ficar preocupado.
Peguei minha Ferrari e acelerei até o hospital, rezando em pensamento pra que ela estivesse bem. Assim que cheguei agradeci por já ser tarde e entrei pelos fundos, dando de cara com meu amigo, que veio até mim com uma cara nada boa.
-E aí, cara? Como ela está?
-Graças a Deus ela já acordou e está consciente. O médico foi lá conversar com ela agora, estamos esperando pra ver se eu posso entrar porque o horário de visita já acabou.
-Entendo - disse um pouco mais aliviado.
-Vamos ali - Rober me puxou pra outro canto da recepção aonde tinha algumas pessoas, e a única que reconheci foi a sua namorada, a Tanara. A abracei de lado, e ela sorriu pra mim.
-Que bom que veio, Luan - ela disse se afastando.
No instante seguinte o médico apareceu, e a cara dele assustou todo mundo. Ele começou dizendo que não houve nenhum trauma neurológico, o que nos aliviou bastante, mas a notícia pior ainda viria, e quando ele contou, todos ficaram boquiabertos. Mariele tinha perdido os movimentos da perna, e aposto que todo mundo achou aquilo muito injusto. Ela não merecia! Olhei pro lado e só então vi seu marido ali, que ao receber a notícia abaixou a cabeça. Voltei a olhar o médico e ele explicou o tipo de paraplegia dela, e que tinha chance de ela voltar a andar. Olhei pra Tanara que estava abraçada em Rober e em seguida pra cara de outra moça, que começou a chorar. Não a conhecia, mas deduzi que fosse a mãe dela. Mesmo sem nunca ter a visto, coloquei minha mão em seu ombro e na hora ela olhou e sorriu pra mim.
-Será que eu podia entrar pra falar com ela? - Rober perguntou e o médico o encarou. - Eu ainda não a vi, queria que ela soubesse que a gente tá aqui pro que ela precisar - disse com sinceridade e o médico assentiu.
-O pai dela está a caminho, quando ele chegar será que ele podia entrar? - a mulher perguntou.
-Pode sim, mas vai de um em um, pode ser? - ele sugeriu e todos concordaram. - Mas o que importa é que ela está bem, e vamos fazer tudo para amenizar com a cirurgia - ele disse nos dando esperança e saiu em seguida.
Como ele tinha autorizado que mais visitas entrassem, Rober foi primeiro e depois de algum tempo voltou, me incentivando a ir também. Eu fiquei meio sem jeito, estava me sentindo perdido no meio daquilo tudo, principalmente com o marido dela me olhando tanto.
-Tudo bem se eu for? - perguntei pro Douglas que me encarou sério e assentiu.
Coloquei as mãos no bolso e segui as orientações que me passaram quanto ao quarto que ela estava, com o coração na mão, tentando achar palavras para conversar com ela.
Mariele Andrade
Não é fácil descobrir de uma hora pra outra que você não pode mais andar, pior que isso é aceitar que agora você não vai conseguir ser independente e sempre alguém terá que te ajudar. Mil coisas se passavam em minha cabeça, eu precisaria de ajuda pra tomar banho, pra andar pela casa... E por falar em casa, como eu subiria as escadas da casa da minha mãe? Pois com certeza eu voltaria a morar com ela, já que acabava de me tornar uma mulher divorciada.
A porta se abriu e eu chorei mais ao ver Rober entrando.
-Ei, não chora - ele disse beijando minha testa e sentou ao lado do meu leito - Não fica assim meu anjo, eu sei que não é fácil aceitar isso, mas vai dar tudo certo, temos que pensar positivo.
-A única coisa que eu penso é eu tendo que precisar de ajuda pra tudo - disse chorando mais enquanto ele secava minhas lágrimas.
-Não fica assim tá? Você vai fazer cirurgia e vai melhorar, logo vai tá correndo pra cima e pra baixo.
-O que eu fiz, Rô? Por que tanto sofrimento de uma vez?
-Porque Deus te ama muito, e ele sabe que você é forte, que aguenta mais essa provação. Ele não te abandonou e vai te ajudar, confia Nele. - disse alisando meu cabelo e eu respirei fundo, tentando entender porque a provação tinha que ser justo aquela. - Olha, tem mais uma pessoa aí que eu tenho certeza que quer te ver, posso mandar entrar? - perguntou e eu assenti, pensando em quem poderia ser.
Não demorou muito pra porta se abrir de novo, e eu não acreditei que a pessoa que Rober tinha se referido era o Luan. Aliás, a última pessoa que eu esperava encontrar ali era Luan, aquilo nem se passou pela minha cabeça, mas de certa forma, eu fiquei feliz.
-Você também sabe? - perguntei quando ele se aproximava e ele assentiu. - Também está com pena de mim? - perguntei instintivamente e ele segurou minhas mãos, beijando- as de leve.
-De forma alguma, estou só tentando entender... - me olhou de cima a baixo - Como isso aconteceu?
-Eu não sei, parece que o motorista avançou o sinal vermelho... - dei de ombros
-Era mulher? Só pode ser mulher - brincou e eu acabei rindo, mesmo ainda querendo chorar.
-Só você pra soltar uma piada comigo nessa situação, Luan.
-Porque não rir? Você está viva, está respirando...
-Mas estou paraplégica.
-Por pouco tempo. Pelo que fiquei sabendo você vai fazer uma cirurgia e logo pode voltar a andar.
-Mas não é um processo rápido assim.. - disse cabisbaixa.
-Não quero que pense isso, e também não quero você com essa carinha triste - deu um toque no meu nariz e riu - Vai dar tudo certo, e se precisar de mim.. estou a disposição - sorriu antes de se despedir e eu fiquei agradecida.
Luan tinha vacilado comigo, mas aquilo já não era mais a pior coisa pra mim, porque passou, tudo passa, e eu sabia que passaria com Douglas também.
As vezes nos importamos com coisas banais, sofremos por coisas banais, coisas que com o tempo vão deixar de incomodar. Mas Luan tinha razão, eu estava viva e isso era o mais importante. Não queria mais ficar chorando, e também não podia e nem tinha direito de me revoltar com Deus. Sabia que Ele tinha planos pra tudo, e se era pra ser daquele jeito, eu aceitaria, e passaria sem resmungar. "A dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional.."
Luan Rafael.
Saí do hospital pensativo, e por alguma razão desconhecida tudo que eu queria era ficar lá, e de alguma forma cuidar dela. Senti que Mariele precisava de alguém do lado, e nesse momento até me esqueci que ela não era mais solteira. Eu não a conhecia definitivamente, não sabia seus gostos, medos, sonhos... mas queria mais do que tudo ter essa oportunidade. Eu queria que ela pedisse minha ajuda, e ai teria desculpas para ficar com ela o tempo todo. E o que será que é isso que eu sinto? Carinho? Afeto? Eu sinceramente não sei. A única coisa que eu tenho certeza que eu tenho, é medo de amar de novo.
Parei o carro em um fast food e decidi descer pra comer algo, lembrando que não tinha nada em casa pra comer. Tentei ser o mais neutro possível, e entrei de cabeça baixa no Subway. Lógico que o olhar da atendente se arregalou, mas ela se manteve quieta, e me atendeu sorrindo, sem pedir fotos ou autógrafos. Fiz meu pedido e olhei em volta, já estava tarde e ali não estava muito cheio, então decidi comer lá mesmo.
Paguei meu lanche, peguei a bandeja e fui pra uma mesa perto da porta, ainda pensando na Mari frágil, e na dificuldade que ela enfrentaria. Perto de terminar de comer, vi um casal entrar no local. A menina estava sentado em uma cadeira de rodas, e eu automaticamente fiquei olhando pros dois, sem conseguir disfarçar. O rapaz a empurrou até mais perto do balcão e eu percebi que eles sorriam desde quando entraram. Ela disse a ele o que queria e ele montou conforme ela falava. Depois de pagar tudo, ele colocou a bandeja no colo dela e a empurrou pra uma mesa perto da minha, enquanto eu continuava olhando na maior cara de pau.
Com eles ali perto, acabei ouvindo parte da conversa, e foi inevitável não ficar emocionado.
-Depois vamos pra casa né, amor? - ela perguntou.
-Você não queria andar na roda gingante?
-Eu falei brincando - ela riu.
-Mas eu levei a sério. Disse que depois que saíssemos do cinema íamos lá, e eu vou cumprir a promessa.
-Você sabe que é complicado, Renato...
-Complicado por quê?- perguntou começando a comer.
-Como porque?! Você tem que me pegar no colo.
-Não estou vendo nada complicado nisso, eu amo te pegar no colo, pra mim não tem problema nenhum.
-É que você é louco - ela riu. - Se depender de você me carrega no colo pra todo lugar.
-Se você quiser eu levo mesmo, sinto seu cheirinho mais de perto, você não sabe como eu amo.. - ele falou sorrindo e eu senti meu peito apertar. Era muito bonito presenciar de perto uma cena de amor tão verdadeira, tão pura, tão sincera...
-Será que estava bêbado?
-Eu não sei, ele fugiu do local.
-Já falou com o Douglas?
-Já, ele está a caminho.
Ouvia tudo em silêncio, e ao ouvir o nome do Douglas fui me lembrando de tudo. Nossa discussão, ele falando que amava outra, eu saindo chorando e depois o baque no carro. Enfim, tudo ainda era real na minha mente, e eu lutava pra abrir os olhos. Incomodada, resmunguei.
-Filha, ta tudo bem, a gente ta aqui - ouvi minha mãe, falando mais perto de mim. Devagar fui conseguindo levantar as pálpebras - Oh minha querida, que bom que você acordou - ela falou segurando minha mão e eu olhei minha amiga que estava ao lado dela. -Você lembra o que aconteceu? - perguntou e eu assenti, ainda me sentindo um pouco mole.
-Eu tô zonza - falei com dificuldade e ela passou as mãos no meu cabelo.
-É efeito do remédio - sorriu - Eu liguei pro Douglas viu? Ele está quase chegando. Seu pai também disse que vem. - assenti calada - Graças a Deus você está bem - sorriu com os olhos cheios de lágrimas e eu a olhei com afeto.
-Não faz mais isso - Tanara falou e eu a olhei desentendida - Não me assusta desse jeito - chegou mais perto e eu sorri sem mostrar os dentes.
Alguns minutos depois eu fui ficando mais alerta , o que significava que a medicação estava perdendo o efeito. Além disso, sentia o meu corpo dolorido. Minha mãe beijou minha testa avisando que ia sair pra que outra pessoa entrasse, e quanto eu vi Douglas passando pela porta senti meu peito apertar. Ele entrou no quarto com a cabeça baixa, e veio se aproximando da mesma maneira.
-Eu pedi pra você não sair nervosa - ele disse mais perto.
-Não tinha como sair calma depois de tudo que eu ouvi - disse com sinceridade e ele me olhou sem jeito.
-Eu quero te explicar tudo.
-Eu quero muito entender mesmo - falei o encarando, esperando ele criar coragem para começar.
Douglas sentou na cadeira ao lado e juntou as mãos, respirou fundo por alguns segundos e depois começou a me falar o motivo daquilo tudo.
-Eu não mentia quando dizia que te amava, eu te amei de verdade, mas talvez não tenha sido suficiente - eu percebi que ele estava sendo sincero, e sabia que ele tomava cuidado pra não me magoar. Porém era inevitável, e meu coração doía mais que o meu corpo por conta do acidente - Eu acho que a gente casou rápido demais.- tornou a falar e eu o interrompi.
-Você quem quis assim.
-Eu sei, eu meti os pés pelas mãos. Errei e acabei te magoando. - suspirou e encarou o chão outra vez - Eu não queria que fosse assim, Mari. Eu nunca quis te magoar - me encarou e respirou fundo - Quero que saiba que eu não te traí, e ficaria feliz se acreditasse nisso.
-Eu acredito - falei limpando as lágrimas que já caiam. - Mas... quero saber como isso aconteceu. Por que se apaixonou por outra? Eu fiz alguma coisa errada? Faltou alguma coisa no nosso casamento? - perguntei começando a chorar mais.
-Você é incrível, Mari - ele falou segurando minhas mãos. - O erro não é seu. Mas acontece que a gente não escolhe por quem se apaixonar, e aconteceu...
-Quem é? - perguntei instintivamente, com curiosidade.
-Ela é irmã de um amigo meu, nos vimos algumas vezes, e eu não sei como, acabei me apaixonando.
-Você já pretendia se separar?
-Não era justo com você, Mari. Eu sinto um carinho enorme por você, mas não é o que você merece.
-Na verdade, acho que o que sentiu nunca foi mais que carinho - eu falei e ele ficou calado. - Não tem como ter sido mais do que isso, porque se fosse, não teria acabado. "Não é o sentimento que se esgota, somos nós que ficamos esgotados de sofrer, ou esgotados de esperar, ou esgotados da mesmice"- citei um trecho de um texto da Martha Medeiros e ele preferiu continuar calado.
-Me desculpa por isso - ele ousou falar e eu limpei minhas lágrimas, olhando pra outro lado.-Eu vou estar ali fora se precisar - se levantou e saiu, enquanto eu comecei a chorar mais. Não é legal se decepcionar com as pessoas.
Meu corpo ainda doía e com isso eu me esforçava para não me mexer. Meu único esforço era em limpar minhas lágrimas que não paravam de cair. Respirei fundo e quando a enfermeira entrou pedi pra que ela me desse um copo com água. Ela assentiu dizendo que iria buscar e quando voltou, veio com o médico, que até então não tinha ido ali.
-Como se sente? - ele perguntou e eu limpei os vestígios de lágrimas.
-Com dor - fui sincera, sem dar muitos detalhes, até porque minha dor ia além do meu corpo.
-É esperável, foi uma pancada forte. A boa notícia é que fizemos uma tomografia e não houve nenhuma alteração neurológica. - falou e eu assenti.
-E com os outros órgãos, algum problema? - perguntei apoiando as mãos na cama para me sentar para beber a água que tinha pedido, quando percebi que não conseguiria levantar sozinha.
-Isso é o que eu quero testar agora, consegue se mexer? - perguntou ao me ver tentando levantar, o que era em vão.
-Sinto muita dor. - eu falei.
-Você sente isso? - segurou minha perna com força e eu assenti. - Mexe a perna esquerda pra mim - pediu e eu me esforcei para movimentá-la mas não conseguia, parece que me faltava forças - Mexe - ele tornou a pedir e eu tentei de novo, outra vez sem conseguir.
-Eu não consigo, doutor - falei começando a me desesperar.
-Tenta mexer a outra - falou e eu também não consegui.
-Doutor? - me desesperei ainda mais, começando a chorar. Ele olhou pra enfermeira que me encarou com uma cara de pena. - Alguém pode me falar o que está acontecendo? - perguntei nervosa.
- Está tudo certo com os seus órgãos vitais, mas na ressonância deu uma lesão na primeira vértebra , dentro da coluna lombar L1. - falou com calma e eu o encarei preocupada - Isso significa que você está paraplégica- falou de uma vez e meus olhos arregalaram. Comecei a chorar descompassadamente enquanto ele tentava me acalmar - Como você ainda tem sensibilidade, sua paraplegia é incompleta. - continuou dizendo enquanto eu continuava chorando - Mas fica tranquila, podemos tentar uma cirurgia para reverter isso e com algumas sessões de fisioterapia você pode voltar a andar - tentou me consolar mas tudo que eu pensava era que dependeria de cadeira de rodas, e teria minha vida toda mudada.
Luan Rafael
Estava em casa sem ter nada pra fazer e sozinho, já que minha filha tanto insistiu que a levei pra casa dos avós. Com isso, decidi fazer um churrasco de última hora e liguei pra alguns amigos. A maioria deles aceitou e eu comecei a arrumar tudo para recebê-los. Como Rober morava mais perto, o liguei pra que ele levasse umas cervejas, já que lá em casa não tinha muitas.
-Já está vindo, boi?
-Aconteceu uma coisa, Luan - ele disse meio tenso.
-O que foi?
-A Mari, ela sofreu um acidente, cara. Estou indo pro hospital agora - falou de uma vez e eu levei um susto.
-A Mariele? Mas o que aconteceu?
-Bateram no carro dela, eu não entendi direito. A Tanara me mandou um áudio desesperada pedindo que eu a levasse no hospital, mas o áudio chegou agora e ela já está lá.
-Mas ela está bem?
-Eu não sei, Luan. A Tanara não me atende. Ela está no Sírio Libanês caso você queira ir.. Vou desligar aqui,cara. Tchau. - disse por fim e desligou o celular, deixando meu coração apertado e preocupado.
Talvez eu não fosse a primeira pessoa que ela quisesse ver, mas por consideração eu achei que deveria ir visitá-la e sem pensar duas vezes cancelei o churrasco e fui até o hospital, até porque eu nem sabia em que estado ela estava, e era inevitável não ficar preocupado.
Peguei minha Ferrari e acelerei até o hospital, rezando em pensamento pra que ela estivesse bem. Assim que cheguei agradeci por já ser tarde e entrei pelos fundos, dando de cara com meu amigo, que veio até mim com uma cara nada boa.
-E aí, cara? Como ela está?
-Graças a Deus ela já acordou e está consciente. O médico foi lá conversar com ela agora, estamos esperando pra ver se eu posso entrar porque o horário de visita já acabou.
-Entendo - disse um pouco mais aliviado.
-Vamos ali - Rober me puxou pra outro canto da recepção aonde tinha algumas pessoas, e a única que reconheci foi a sua namorada, a Tanara. A abracei de lado, e ela sorriu pra mim.
-Que bom que veio, Luan - ela disse se afastando.
No instante seguinte o médico apareceu, e a cara dele assustou todo mundo. Ele começou dizendo que não houve nenhum trauma neurológico, o que nos aliviou bastante, mas a notícia pior ainda viria, e quando ele contou, todos ficaram boquiabertos. Mariele tinha perdido os movimentos da perna, e aposto que todo mundo achou aquilo muito injusto. Ela não merecia! Olhei pro lado e só então vi seu marido ali, que ao receber a notícia abaixou a cabeça. Voltei a olhar o médico e ele explicou o tipo de paraplegia dela, e que tinha chance de ela voltar a andar. Olhei pra Tanara que estava abraçada em Rober e em seguida pra cara de outra moça, que começou a chorar. Não a conhecia, mas deduzi que fosse a mãe dela. Mesmo sem nunca ter a visto, coloquei minha mão em seu ombro e na hora ela olhou e sorriu pra mim.
-Será que eu podia entrar pra falar com ela? - Rober perguntou e o médico o encarou. - Eu ainda não a vi, queria que ela soubesse que a gente tá aqui pro que ela precisar - disse com sinceridade e o médico assentiu.
-O pai dela está a caminho, quando ele chegar será que ele podia entrar? - a mulher perguntou.
-Pode sim, mas vai de um em um, pode ser? - ele sugeriu e todos concordaram. - Mas o que importa é que ela está bem, e vamos fazer tudo para amenizar com a cirurgia - ele disse nos dando esperança e saiu em seguida.
Como ele tinha autorizado que mais visitas entrassem, Rober foi primeiro e depois de algum tempo voltou, me incentivando a ir também. Eu fiquei meio sem jeito, estava me sentindo perdido no meio daquilo tudo, principalmente com o marido dela me olhando tanto.
-Tudo bem se eu for? - perguntei pro Douglas que me encarou sério e assentiu.
Coloquei as mãos no bolso e segui as orientações que me passaram quanto ao quarto que ela estava, com o coração na mão, tentando achar palavras para conversar com ela.
Mariele Andrade
Não é fácil descobrir de uma hora pra outra que você não pode mais andar, pior que isso é aceitar que agora você não vai conseguir ser independente e sempre alguém terá que te ajudar. Mil coisas se passavam em minha cabeça, eu precisaria de ajuda pra tomar banho, pra andar pela casa... E por falar em casa, como eu subiria as escadas da casa da minha mãe? Pois com certeza eu voltaria a morar com ela, já que acabava de me tornar uma mulher divorciada.
A porta se abriu e eu chorei mais ao ver Rober entrando.
-Ei, não chora - ele disse beijando minha testa e sentou ao lado do meu leito - Não fica assim meu anjo, eu sei que não é fácil aceitar isso, mas vai dar tudo certo, temos que pensar positivo.
-A única coisa que eu penso é eu tendo que precisar de ajuda pra tudo - disse chorando mais enquanto ele secava minhas lágrimas.
-Não fica assim tá? Você vai fazer cirurgia e vai melhorar, logo vai tá correndo pra cima e pra baixo.
-O que eu fiz, Rô? Por que tanto sofrimento de uma vez?
-Porque Deus te ama muito, e ele sabe que você é forte, que aguenta mais essa provação. Ele não te abandonou e vai te ajudar, confia Nele. - disse alisando meu cabelo e eu respirei fundo, tentando entender porque a provação tinha que ser justo aquela. - Olha, tem mais uma pessoa aí que eu tenho certeza que quer te ver, posso mandar entrar? - perguntou e eu assenti, pensando em quem poderia ser.
Não demorou muito pra porta se abrir de novo, e eu não acreditei que a pessoa que Rober tinha se referido era o Luan. Aliás, a última pessoa que eu esperava encontrar ali era Luan, aquilo nem se passou pela minha cabeça, mas de certa forma, eu fiquei feliz.
-Você também sabe? - perguntei quando ele se aproximava e ele assentiu. - Também está com pena de mim? - perguntei instintivamente e ele segurou minhas mãos, beijando- as de leve.
-De forma alguma, estou só tentando entender... - me olhou de cima a baixo - Como isso aconteceu?
-Eu não sei, parece que o motorista avançou o sinal vermelho... - dei de ombros
-Era mulher? Só pode ser mulher - brincou e eu acabei rindo, mesmo ainda querendo chorar.
-Só você pra soltar uma piada comigo nessa situação, Luan.
-Porque não rir? Você está viva, está respirando...
-Mas estou paraplégica.
-Por pouco tempo. Pelo que fiquei sabendo você vai fazer uma cirurgia e logo pode voltar a andar.
-Mas não é um processo rápido assim.. - disse cabisbaixa.
-Não quero que pense isso, e também não quero você com essa carinha triste - deu um toque no meu nariz e riu - Vai dar tudo certo, e se precisar de mim.. estou a disposição - sorriu antes de se despedir e eu fiquei agradecida.
Luan tinha vacilado comigo, mas aquilo já não era mais a pior coisa pra mim, porque passou, tudo passa, e eu sabia que passaria com Douglas também.
As vezes nos importamos com coisas banais, sofremos por coisas banais, coisas que com o tempo vão deixar de incomodar. Mas Luan tinha razão, eu estava viva e isso era o mais importante. Não queria mais ficar chorando, e também não podia e nem tinha direito de me revoltar com Deus. Sabia que Ele tinha planos pra tudo, e se era pra ser daquele jeito, eu aceitaria, e passaria sem resmungar. "A dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional.."
Luan Rafael.
Saí do hospital pensativo, e por alguma razão desconhecida tudo que eu queria era ficar lá, e de alguma forma cuidar dela. Senti que Mariele precisava de alguém do lado, e nesse momento até me esqueci que ela não era mais solteira. Eu não a conhecia definitivamente, não sabia seus gostos, medos, sonhos... mas queria mais do que tudo ter essa oportunidade. Eu queria que ela pedisse minha ajuda, e ai teria desculpas para ficar com ela o tempo todo. E o que será que é isso que eu sinto? Carinho? Afeto? Eu sinceramente não sei. A única coisa que eu tenho certeza que eu tenho, é medo de amar de novo.
Parei o carro em um fast food e decidi descer pra comer algo, lembrando que não tinha nada em casa pra comer. Tentei ser o mais neutro possível, e entrei de cabeça baixa no Subway. Lógico que o olhar da atendente se arregalou, mas ela se manteve quieta, e me atendeu sorrindo, sem pedir fotos ou autógrafos. Fiz meu pedido e olhei em volta, já estava tarde e ali não estava muito cheio, então decidi comer lá mesmo.
Paguei meu lanche, peguei a bandeja e fui pra uma mesa perto da porta, ainda pensando na Mari frágil, e na dificuldade que ela enfrentaria. Perto de terminar de comer, vi um casal entrar no local. A menina estava sentado em uma cadeira de rodas, e eu automaticamente fiquei olhando pros dois, sem conseguir disfarçar. O rapaz a empurrou até mais perto do balcão e eu percebi que eles sorriam desde quando entraram. Ela disse a ele o que queria e ele montou conforme ela falava. Depois de pagar tudo, ele colocou a bandeja no colo dela e a empurrou pra uma mesa perto da minha, enquanto eu continuava olhando na maior cara de pau.
Com eles ali perto, acabei ouvindo parte da conversa, e foi inevitável não ficar emocionado.
-Depois vamos pra casa né, amor? - ela perguntou.
-Você não queria andar na roda gingante?
-Eu falei brincando - ela riu.
-Mas eu levei a sério. Disse que depois que saíssemos do cinema íamos lá, e eu vou cumprir a promessa.
-Você sabe que é complicado, Renato...
-Complicado por quê?- perguntou começando a comer.
-Como porque?! Você tem que me pegar no colo.
-Não estou vendo nada complicado nisso, eu amo te pegar no colo, pra mim não tem problema nenhum.
-É que você é louco - ela riu. - Se depender de você me carrega no colo pra todo lugar.
-Se você quiser eu levo mesmo, sinto seu cheirinho mais de perto, você não sabe como eu amo.. - ele falou sorrindo e eu senti meu peito apertar. Era muito bonito presenciar de perto uma cena de amor tão verdadeira, tão pura, tão sincera...
Terminei de comer e me levantei, ainda encarando o casal, dessa vez sendo notado pelo rapaz. Assim que ele me viu, sorriu e apontou pra mim, dizendo um "olha ali o Luan Santana". Eu sorri e ouvi quando a menina disse que não ia cair no papinho dele.
-Oi - disse por trás e ela virou assustada, colocando a mão no peito.
-Minha nossa, é o Luan Santana mesmo - ela disse boquiaberta e eu ri, me abaixando para beijar sua testa.
-Sou eu, e vou confessar que estava ali espiando vocês o tempo todo - sorri e ela me olhou encantada.
-Sou sua fã - ela disse emocionada.
-Fã? Você é louca por esse aí - o rapaz disse fingindo ciúmes e a gente riu.
-Oh minha linda, obrigado pelo carinha - a abracei de lado - Vamos tirar uma foto? - sugeri e quando vi, o namorado da menina já estava com o celular na mão. Me abaixei mais e a foto foi tirada
-Obrigada - ela agradeceu sem jeito e eu sorri, ainda a olhando.
- Será que... eu posso perguntar uma coisa? - disse sem graça e ela assentiu - É difícil pra você.. sabe.. não andar.. - perguntei com um pouco de medo de ela se incomodar.
-No começo foi, mas agora não é mais. - disse sorrindo - O Renato me ajudou muito, é delicioso ser cuidada por ele. - sorriu pro namorado.
-Mas sabe, cara - o menino se pronunciou - Isso não muda nada, não a torna menos linda e nem menos gostosa - disse sorrindo e ela corou - O que eu quero dizer é que eu a amo de qualquer jeito - falou sorrindo e eu assenti.
Me despedi do casal e voltei pra casa pensando na bela lição que recebi em apenas alguns minutos.
Notas da Autora:
Poxa, mas essa pra Mari? Pois é... triste. Mas tenho planos ótimos e preciso que confiem em mim. Pode ser?
Bom, a maioria já deve estar sabendo, mas gostaria de falar que a Tanara está escrevendo a Segunda Temporada da PS.: Eu te Vivo e ela já começou com tudo. Não sei se posso contar, mas ela me contou algumas coisas e eu acabei percebendo que tínhamos muitas ideias parecidas, então de antemão aviso vocês que não existe plágio uma com a outra, somos amigas e trocamos informações sobre as fanfic's. É normal os pensamentos baterem algumas vezes, mesmo que cada uma siga linhas diferentes. Leiam gente, tá demais, preciso nem falar né? Por hoje é isso, posto em breve, breve mesmo. Beijos.
Notas da Autora:
Poxa, mas essa pra Mari? Pois é... triste. Mas tenho planos ótimos e preciso que confiem em mim. Pode ser?
Bom, a maioria já deve estar sabendo, mas gostaria de falar que a Tanara está escrevendo a Segunda Temporada da PS.: Eu te Vivo e ela já começou com tudo. Não sei se posso contar, mas ela me contou algumas coisas e eu acabei percebendo que tínhamos muitas ideias parecidas, então de antemão aviso vocês que não existe plágio uma com a outra, somos amigas e trocamos informações sobre as fanfic's. É normal os pensamentos baterem algumas vezes, mesmo que cada uma siga linhas diferentes. Leiam gente, tá demais, preciso nem falar né? Por hoje é isso, posto em breve, breve mesmo. Beijos.
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