sexta-feira, 1 de julho de 2016

Parte 1 - Capítulo 56

Luan ainda ficou mais um tempo comigo, mas logo teve que se despedir e eu fiquei ali, pensando nos acontecimentos dos últimos minutos.. Eu nem me lembrava do Douglas.. Por que ele tinha que aparecer? Por que ele tinha que me pedir perdão? Meu sentimento - que eu achei ter morrido - acordou, e eu comecei a sentir toda aquela velha dor de novo..

Fiquei mais alguns minutos sozinha, até meu pai vir conversar comigo.

-Não pai, agora não - falei me levantando e saindo dali, eu sabia bem o que ele iria falar, e eu não estava querendo ouvir, não naquela hora.

Voltei para dentro da casa e logo minha irmã roubou minha atenção, conversando sem parar, o que no fim das contas foi bom e me fez parar de pensar. Mas não tem jeito, chega uma hora que você fica quieta de novo e os pensamentos voltar a te torturar, e isso aconteceu quando fui me preparar para dormir. Deitei na minha cama e tentei de todas as formas possíveis não pensar em nada, mas foi em vão. Respirei fundo algumas vezes e então meu pai entrou no quarto, com uma caneca com chocolate quente, que ele sabia que eu amava.

-Só vim ver se você está bem - ele falou antes que eu o mandasse sair.

-Eu estou - sorri sem mostrar os dentes e então ele se sentou na ponta da cama.

-Trouxe pra você - me entregou a caneca e eu peguei, assoprando para tomar um gole - Sei que você não quer conversar mais.. eu sou o seu pai, e eu quero te ajudar também...

-Eu sei pai - falei bebendo do chocolate, sem querer prolongar o assunto.

-Também sei que não quer falar sobre o Douglas.. - tocou no nome dele e eu bufei, colocando a caneca de lado - Me escuta,.. eu sei que não quer falar, mas... ele te ama filha.. Luan é uma pessoa legal mas não é a pessoa certa pra você. Você sabe que a vida dele é incomum, você não aguentaria..

-Ok pai, obrigada pelo preocupação..

-Eu estou falando pro seu bem...

-Acontece que o senhor não sabe da missa a metade. Nos separamos por causa dele, foi ele quem quis..

-Mas ele se arrependeu,

-A mamãe também, e o senhor a aceitou de volta?

-É diferente...

-Não, não é.. É minha vida, meus sentimentos e eu não quero falar disso.

-Tudo bem.. tudo bem - ele suspirou e levantou da cama. - Como está suas pernas?

-Está indo, a fisioterapeuta disse que logo eu vou conseguir andar sozinha, sem o andador.

-Que bom, fico feliz.. Bom.. vou te deixar descansar - sorriu sem jeito e caminhou em direção a porta. - Boa noite..

-Boa noite - respondi pegando a caneca de novo.

Dizem que o tempo cura, e de certa forma ele ajuda bastante, mas naquele momento tudo que eu mais precisava era de mais tempo. Tempo para me desprender, para parar de me importar, para parar de sofrer.. Porém o que tinha restado era incerteza, junto a muitas lembranças, sobretudo de Londres, aonde eu não podia negar, tinha sido muito feliz com Douglas.

Acordei tarde no dia seguinte -  também.. fui dormir quando estava quase amanhecendo - mas mesmo assim não queria levantar da cama, já não sabia nem mais o que tinha ido fazer ali, poderia continuar com raiva do Luan,o que seria resolvido depois, pelo menos não estaria tão confusa como agora. Mesmo contra gosto me levantei e fui para cozinha, aonde só vi minha madrasta preparando a comida.

-Oi querida - ela puxou papo e eu fui lhe cumprimentar, não havia a visto na dia anterior.

-Ontem foi tão confuso que acabei não perguntando de você..

-Eu fui visitar minha mãe e acabei dormindo lá.. - comentou secando as mãos no pano de prato se virando para mim em seguida - Seu pai me falou que seu marido esteve aqui - ela disse sorrindo sem graça e eu continuei calada - Ele mandou entregar isso - ela apontou para trás e só então eu percebi que tinha um buquê de flores vermelhas bem ali.

-É do Douglas? - perguntei surpresa e ela assentiu - O que ele está querendo? Me enlouquecer? - perguntei negando, ainda encarando o buquê de longe.

-Ele está tentando te agradar.. - ela falou e eu a encarei, sem querer tocar naquele assunto de novo - Sabe que eu conheci seu pai em uma casa de show não é? - mudou de assunto.

-Sei..

-Mas acho que ele nunca contou realmente o que aconteceu... Naquele dia ele comentou que a esposa dele queria voltar, e eu perguntei porque ele não voltava.. ele me disse que não era a melhor escolha, porque ela não o amava o suficiente..

-Você está dizendo que eu não devo voltar então?

-Não.. eu te aconselho a fazer o mesmo que seu pai fez com sua mãe.. conversa com ele,se ele quer outra chance é porque no mínimo alguma coisa ele sente, e se você também sente.. pra que ficar sofrendo? - ela falou sorrindo enquanto eu refletia suas palavras - Pensa direitinho viu? Assim você pode colocar um ponto final nessa história - ela falou passando a mão nos meus braços de leve, antes de sair da cozinha.

-Renata? - a chamei antes que ela saísse de vez e ela me encarou - A conversa com meus pais não deu certo?

-Sua mãe mesmo assumiu que não daria certo... mas isso não significa que o mesmo vai acontecer com você... Não podemos prever - ela deu de ombros e saiu. Só então caminhei até o buquê, e primeiro peguei o cartão que tinha no meio dele:

"Por favor, me encontra as 20h no restaurante Amici Ristorante! Eu vou estar te esperando com aquele vinho que você mais gosta. Teremos uma noite incrível comendo comida italiana que você também gosta..  E.. mesmo que não vá, saiba que continuarei te esperando! 
Att: Douglas B.

Reli o bilhete umas três vezes e comecei a me perguntar se deveria ou não encontrá-lo.. É claro que a conversa com minha madrasta estava martelando em minha cabeça, e eu ainda me sentia  perdida, sem saber o que fazer.

O tempo foi passando e eu ainda não tinha decidido nada, estava sentada no sofá vendo televisão mas sem nem prestar atenção, me perguntando se Douglas merecia uma chance, se o nosso casamento merecia uma chance..

Me mantive longe do celular durante todo o dia, mas de qualquer forma, já havia anoitecido, e o relógio da sala me avisava que se eu fosse, deveria começar a me arrumar logo.. Mesmo assim, ainda fiquei ali, sentada, só encarando a televisão, como se só meu corpo estivesse ali, e a alma longe, bem longe dali. Levantei então do sofá e fui até meu quarto, aonde o buquê estava esticado na cama, o encarei por alguns minutos e então peguei o celular, que estava cheio de notificação e ligações perdidas do Luan... Agora não Luan.. me desculpa por isso...

Mesmo ainda confusa decidi que iria encontrar com Douglas, pra ser sincera eu nem sabia se isso era mesmo o certo, só sei que queria ir. Me arrumei sem pressa e vesti a melhor roupa que havia levado, talvez ele não merece tanto.. mas eu estava linda, linda para ele.

Quando saí de casa faltava poucos minutos para o horário que ele marcou, e digamos que o restaurante não era o mais perto de onde eu estava. De qualquer forma meu pai se ofereceu para me levar e pra minha alegria, não disse nada durante todo o caminho, apenas me desejou boa sorte quando eu desci.. É, talvez eu precisasse mesmo.

Entrei no restaurante e atraí olhares por todos os cantos.. É claro.. eu estava andando com a ajuda de um andador.. Respirei fundo e encarei o lugar, vendo-o em pé, a algumas mesas a frente. Caminhei em sua direção e ele sorriu, parecendo aliviado.

-Pensei que não viesse...

-Pensou errado - falei um pouco grossa e fui sentar, ele gentilmente puxou a cadeira para mim.

-Você está... muito linda.

-Obrigada - agradeci enfim o encarando - Vamos direto ao ponto? Por que está me pedindo uma chance? Não deu certo com o amor da sua vida? - perguntei de uma vez e ele abaixou a cabeça...

-É como eu disse, eu fui estúpido.. fiz tudo errado..

-Não enrola, Douglas. Me fala de uma vez...

-Vamos comer primeiro pode ser? Nós temos muito tempo para conversar - ele falou chamando o garçom e eu fechei a cara, sem questionar.

Fizemos nosso pedido e para evitar um silêncio constrangedor ou qualquer papinho dele, eu voltei a pressioná-lo

-Acho que você pode adiantar o assunto.

-Tudo bem - ele respirou fundo e deu um gole em seu vinho, me servindo antes de começar - Nossa vida era completamente diferente em Londres.. quando mudamos pro Brasil tudo mudou.. você não me dava atenção, era ausente... nosso casamento estava desgastante e você se quer percebeu..

-Espera.. está colocando a culpa em mim? -perguntei rindo desacreditada.

-A culpa foi nossa... eu sentia sua falta e então outra pessoa começou a me encantar...

-Isso não faz o menor sentido - neguei bufando.

-Como eu já disse eu fui estúpido... fiz a coisa errada.. Poderia ter insistido no nosso casamento, poderia ter lutado para fazer ser como em Londres...

-Mas não fez.. preferiu me dar um pé na bunda..

-Eu não vou mentir pra você.. procurei pela moça que me encantou, tentei ficar com ela.. mas.. não era a mesma coisa.. Eu percebi que só estava querendo alguém mais presente, mas que nenhuma seria como você.. jamais alguém poderia roubar seu lugar.

-Eu.. acho que agora é tarde, não acha?

-Não.. ainda somos casados..Nós podemos tentar de novo..

-Só que agora eu não sei se eu quero.

-Não quero que tome uma decisão agora, eu só quero que você pense na hipótese... - falou tentando segurar minha mão mas eu tirei, e logo nossa comida chegou.

Comemos em silêncio enquanto eu refletia suas palavras. A impressão que eu tinha é que estava engolindo aquilo, que parecia não querer descer de jeito nenhum. Quando terminamos eu não quis mais conversar nada, e apenas pedi para que ele me levasse de volta para casa, e assim ele o fez. Quando o carro parou, eu quis sair de uma vez mas ele não deixou, segurou minha mão e me fez o encarar.

-Mari.. eu dei tudo de mim para te fazer feliz. Eu sempre me esforcei pra te ver bem. O fato de eu não ter te ajudado a enfrentar isso não significa que eu não me importe.. Eu quero te ajudar, quero estar do seu lado.. Há males que vem para o bem.. e nesse caso, me fez perceber que nós nascemos pra ficar juntos. - falou ainda segurando minhas mãos, enquanto eu me segurava para não chorar. - Sei que ainda tem meu número.. vou esperar você me ligar - falou por fim e num movimento rápido selou nossos lábios, me deixando muito mais confusa do que já estava.

Assim que entrei em casa me joguei no sofá da sala e abaixei minha cabeça. Era informação demais, sentimento demais.. eu não estava sabendo lidar.. Para melhorar, recebi uma ligação.. Era o Luan, e eu simplesmente não consegui atender.

"Tem vezes que até mesmo o melhor entre nós tem problemas com compromissos. E a gente pode até ficar surpreso com os compromissos que a gente tem vontade de fugir. Compromissos são complicados. Podemos até nos surpreender com os compromissos que queremos. O verdadeiro compromisso requer esforço e sacrifício. O que, às vezes, é a razão da gente ter que aprender da pior maneira a ter cuidado na hora de escolhê-los"


Notas da Autora:
Como eu tinha avisado, tudo tem um porquê, e aí está o motivo do Douglas ter aparecido. Querendo ou não, Luan virou segundo plano.. mas e aí, vocês acham que ela vai perdoá-lo? E como vocês acham que o Luan vai lidar com isso de ser ignorado? Espero que não me matem, porque sei que o que mais querem é Luriele juntos, mas essa foi a saída que eu achei, foi a ideia que me trouxe de volta, que me animou a escrever.. Talvez agora não seja como estavam esperando, mas chegou a hora de surpreender. beijos.. Posto depois de 25 comentários!

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