sexta-feira, 1 de julho de 2016

Parte 1 - Capítulo 61

-Hein Mariele, você ficou tão preocupada com o que eu disse que tomou pílula?

-Não é isso.. eu só não quero ter filho agora.

-Não quer ter filho agora ou não quer ter filho comigo?

-Nossa Douglas.. que bobagem.

-Bobagem não... você já toma remédio e ainda comprou pílula. Logo você, que morre de medo. - me encarou com raiva e eu olhei perdida. Ele tinha razão, eu tinha medo de causar problemas ao meu útero, mas na hora eu só quis me prevenir.

-Não é nada disso - passei minha mão em seu rosto. - Eu só tomei por precaução, porque não estou tomando os anticoncepcionais regularmente - disse tentando o acalmar e ele parece que não se deu por satisfeito.

-Isso não vai dar certo - ele bufou - Parece que só eu quero que nosso casamento vá para frente.

-Douglas...

-Não Mari, melhor não falarmos nada.. Vamos embora - levantou nervoso e começou a se arrumar.

-Isso tudo por que eu tomei uma pílula?

-Isso tudo porque a minha ficha tá caindo - ele disse vestindo a calça, de costas para mim - E a sua também. Só falta você decidir logo o que quer. - falou por fim vestindo a blusa.

Luan Rafael

Depois do show no Citibank fomos para casa dos meus pais. Minha mãe deu a ideia de fazermos um churrasco, ao invés de ir para o Paris 6, como de costume. Eu acabei achando a ideia melhor, até porque estava com Luana e ela não estava acostumada a dormir muito tarde. Inclusive ela foi bocejando o caminho inteiro e quando chegamos os olhinhos dela já estavam quase se fechando.

-Está com fome? - perguntei e ela assentiu.- Papai vai pedir pra vovó fazer alguma coisa rapidinho.

-Posso dormir aqui?

-Pode.- sorri pra ela, que se agarrou ao meu pescoço.

Minha mãe esquentou uma comida que estava na geladeira, e Luana comeu quase caindo em cima do prato. Enquanto ela comia entrei no meu twitter, só para ver como estava a repercussão da música. Como imaginei, muita gente já falava da canção, e a maioria dizia que eu tinha que gravar.. era algo que eu tinha que pensar, não sei se queria lançar uma música que tinha feito para ingrata da Mariele. E por falar em Mariele, um fã clube em especial chamou minha atenção, quando comentou que tinha a encontrado.



Espera... aonde essa menina tinha encontrado Mariele? Será que foi no show? Mas ninguém comentou nada comigo, se ela tivesse ido eu teria ficado sabendo certo? Entrei na conta do fã clube para saber se ela tinha falado mais algo e vi que ela respondeu uma menina dizendo que tinha a visto no meu show no Citibank. Paralisei... eu e Mariele estávamos no mesmo lugar e ela sequer fez questão de ir me ver. Bem feito trouxa. Bem feito. Me martirizava sozinho.

-Papai? - Luana me cutucava a alguns segundos e eu estava desnorteado - Papai eu terminei - tornou a falar e só então eu a encarei. - Tô com sono.

-Vou levar você pro quarto - falei me levantando para pegar minha filha no colo, ainda me perguntando porque ela não tinha ido me encontrar.

Não é que eu queria vê-la, mas ela tinha ido a um show meu, ela tinha que ir me ver. Ela tinha meu número, poxa. Não custava nada me avisar. Mas quer saber, é melhor assim.. Eu tinha decidido seguir em frente. E ia continuar com essa decisão.

Depois de ter vestido um pijama em Luana, ter a ajudado a escovar os dentes e de me garantir que ela estava bem e que logo dormiria, eu desci de novo pra sala. Paola e Bruna estavam no maior papo e eu, mesmo meio perdido e irritado, coloquei um sorriso falso e me sentei com elas. Eu quem procurei por Paola, e o mínimo que eu podia fazer era lhe dar atenção.

Ficamos um pouco na sala e depois fomos para área de lazer da casa. Alguns amigos meus estavam ali e aquilo me distraiu por um tempo, mas não o suficiente. Peguei uma latinha de cerveja e me isolei por uns minutos. Apesar de tudo eu não conseguia parar de pensar na Mariele. Agora além de questionar sobre o fato de ela não ter me procurado, eu me questionava sobre o que ela pode ter achado da música.

-Tá viajando aí, boi? - Rober perguntou e eu sorri sem jeito, dando um gole na minha bebida.

-Nada demais.

-Caramba.. a Paola é mesmo muito linda ein? - ele me cutucou e eu assenti, sem demonstrar empolgação - Que é, boi? Você não chamou a garota pra nada né? Vai conversar com ela...

-Você sabia que Mariele foi no show não é? - perguntei o encarando e ele revirou os olhos - Por que não falou?

-Ela pediu pra não falar - ele deu de ombros. Como assim ela pediu pra ele não falar? Por que isso agora? Por que ela estava ali? Por que ela não desaparece de uma vez por todas? - Olha... a Mariele é casada, mas você não.Esquece ela, cara. Segue sua vida.

-É fácil pra você falar...

-Não, não é fácil. Ou você esqueceu de tudo que aconteceu? Eu também fui muito apaixonado por ela, mas eu tive que seguir em frente, e olha que pra mim foi muito mais difícil.

-Vai ficar jogando na minha cara agora? - perguntei irritado.

-Não estou jogando nada.. estou bem, com uma pessoa incrível. Há males que vem pro bem  - deu de ombros de novo e também deu um gole em sua bebida - Mas as vezes as coisas não são como a gente quer, e no começo é complicado, mas depois pode ser melhor - disse por fim me deixando sozinho outra vez.

Apesar daquela lição de moral bonita do Roberval,  a única coisa que eu realmente acreditava é na frase que diz que "aqui se faz, aqui se paga". Maldita verdade. Mas Paola estava ali, linda, sorrindo pra mim, e eu não conseguia criar coragem para me aproximar dela.

Acabei me despedindo de todos e subi para dormir no quarto que um dia tinha sido meu. Talvez Paola tenha me achado um maluco, mas eu não achava justo a usar para tentar esquecer alguém. Pra ser sincero, eu nem imaginava que gostava tanto de Mariele assim, a ponto de não querer seguir com ninguém, eu só queria mais do que tudo, que tivéssemos dado certo.

Acordei bem tarde no domingo e mesmo assim, ainda não queria sair da cama. Rolei algumas vezes, tentando pegar no sono de novo, mas não deu certo. Minhas costas já doíam de tanto ficar deitado, então acabei tendo que levantar.

A casa estava em silêncio, cheguei a imaginar que todos tinham saído, mas na verdade quase todos tinham saído, minha mãe tinha ficado. Em silêncio, ela começou a arrumar alguma coisa pra eu comer, e depois de ter me servido, ela sentou de frente pra mim e me encarou com aqueles olhos que mostrava que ela sabia até mais do que devia.

- O que tá acontecendo filhinho?

-Nada - ri comendo devagar, não sei nem porquê eu tentava mentir pra ela.

-Sabe que pode se abrir comigo né?  Chamou a pobre da Paola e nem deu atenção a ela. Tá tentando esquecer alguém? Uma certa menina que ontem estava toda linda no camarote? - riu de lado e eu arregalei os olhos.

- A senhora a viu?

-Vi, ela nos cumprimentou.

-E porque ela não foi me ver, mãe? Eu fiz tudo por ela, sempre estive do lado dela, e pra quê? Ela me trocou por aquele babaca de novo, aquele babaca que não esteve do lado dela um segundo. - comecei a desabafar sem ver.

-Eu entendo sua revolta querido, mas não é assim que você deve pensar. Com certeza Mariele pensa em tudo que fez por ela todos os dias, e ela vai ser grata eternamente, mas ela tem direito de escolher o que ela acha melhor pra ela, está na hora de fazer sua escolha também.

-E se eu escolher ela? Se eu quiser tentar com ela?  - perguntei inconformado.

-Então luta por ela, tenta de novo. Mas esteja preparado para as consequências. O que vale é a vontade de Deus. - disse por fim se levantando. - Agora termina de comer, pessoal deve tá chegando do shopping. - sorriu me deixando sozinho, pensando na nossa conversa.

Terminei de comer a comida maravilhosa da minha mãe e depois fui pra sala. Tudo estava tão quieto que não me ajudava muito, acabava sendo traído pelos meus pensamentos, que sempre pairavam nela. Para melhorar, estava com uma vontade louca de olhar seu perfil no insta, e mesmo que aquilo não fosse o melhor a ser feito eu fiz. Coincidentemente ela tinha postado uma foto, e que foto...

   mariandrade



   mariandrade Levemente bronzeada.


Por que essa infeliz tinha que ser tão linda? E por que tanto peito? Que raiva. Que ódio. Eu a odiava, e amava ao mesmo tempo. É.. a velha linha tênue do amor e ódio. Filha da mãe. Ela não podia fazer isso comigo. Ela não  podia postar uma foto daquele jeito. Ela sabia que aquele par de bolas de boliche era meu ponto fraco. Ela sabia.. Infeliz.. você me paga Mariele!

Continuei babando na sua foto por um tempo até uma ligação interromper minha visão. Me assustei. Era Maria, mãe da Ana. Atendi apreensivo, com uma dor no peito desconhecido, mal sabia que já estava pressentindo a notícia que eu teria.

-Luan? É a Maria.

-Oi dona Maria, como estão?

-Nada bem.. o pai de Jonas morreu.. achei que quisesse saber. - falou de uma vez e levei um susto.

-É claro - falei sem saber como reagir - Obrigada por avisar.

-O enterro sera amanhã às 16 horas, se quiser ir...

-Eu vou tentar. Meus pêsames.

Desliguei o telefone em choque. Dos avôs de Ana, o pai de Jonas foi quem eu mais me apeguei. Recebemos ele e a esposa em nossa casa algumas vezes e o sorriso dele era algo que eu nunca me esqueceria. Quando nos conhecemos ele tinha sido mais turrão, mas felizmente tive a chance de conhecer o grande coração que ele tinha. Não sabia se iria ao seu enterro, o último tinha sido o da Ana e bem.. eu não sei se estava preparado para lembrar de todas aquelas sensações que tive. Por consideração, entrei no meu instagram e postei uma foto.

   luansantana


luansatana "O silêncio, na verdade, é quando a vida se despede. Nessas horas, falar não resume sentimento. Apenas orar e pedir a Deus que receba o seu Olavo na Santa Paz! Força, meu eterno sogro.

Deixei o celular de lado e logo meu pai, minha irmã e minha filha chegaram, tomando conta do silêncio que estava ali. Comentei com meu pai e minha irmã que o bisavô da Lu tinha falecido quando ela foi ver a avó e eles se espantaram assim como eu. Luana teve pouco contato com ele, mas de certa forma eu  sabia que tinha que falar para ela que o seu bisavô também tinha virado uma estrela. Quando ela voltou, toda sorridente, eu disse pra ela que dormiríamos em casa e ela aceitou, depois que eu prometi que deixaria ela jogar o jogo da Barbie no computador.

Fomos pra minha casa e como prometido ela jogou o seu jogo. Pedi uma pizza pra gente e depois de termos nos alimentado eu levei ela pra cama. Dessa vez me deitei com ela, e com cuidado contei sobre seu Olavo.

-Filha.. lembra do vô Olavo?

-Lembro papai.

-Então.. hoje ele também virou uma estrela.

-Sério, papai? - ela perguntou se virando pra mim - Igual a mamãe? - perguntou e eu assenti, sentindo a garganta travar. - Então eu nunca mais vou ver ele?

-Ah... vai. Vamos achar ele no céu depois, igual encontramos a estrela da sua mãe - falei pegando em seu nariz.

-Tá bom - ela falou virando pro outro lado. -Papai?

-Oi?

-Promete pra mim que nunca vai virar uma estrela? - falou baixinho e eu senti meu coração apertar.

-Prometo - falei segurando o choro, mesmo sabendo que aquilo não dependia de mim.

Acabei pegando no sono e dormi com minha filha. A cama dela era grande e coube perfeitamente nós dois, e eu só percebi isso no dia seguinte, quando acordei com a campainha tocando incessantemente. Levantei ainda meio zonzo e enquanto caminhava até a porta ia passando a mão no cabelo, para tentar arrumar pelo menos um pouco, me perguntando quem estaria ali aquela hora.

Abri a porta bocejando e quase caí pra trás ao vê-la ali.

-Mariele?



"É tudo uma questão de quanto você deseja e o que está disposto a fazer para conseguir."

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