sexta-feira, 1 de julho de 2016

Parte 1 - Capítulo 45

Luan Rafael

Segunda-feira, diferente de muitas pessoas, era um dos meus dias preferidos. Dia que eu gostava de ficar em casa com minha filha, que sempre pedia para ir para casa dos avós. Não sei o que a casa dos avós tem de tão bom, ou melhor, eu até sei, e chama-se "mimação". Lá eles fazem o que ela quer, e quando chega em casa é um custo pra educá-la, já que ela é mestre em fazer birra.

-Já disse que não vou te levar pra casa dos seus avós, Luana - disse começando a me irritar.

-Então liga e pede pra eles me buscarem - choramingou.

-Não, você vai ficar comigo.

-Mas aqui é chato, papai.

-Não é não, a gente pode brincar. Quer fazer o que?

-Vai deixar eu te maquiar igual faço com a tia Bubu?

-Eu deixo, cadê o batom que sua tia te deu? Pega lá.

-Ebaa-  saiu correndo animada e voltou com o batom rosa nas mãozinhas. - Deita aqui, papai - ela falou mais animada e eu não tive como voltar atrás.

Deitei no sofá e Luana começou a passar o batom na minha boca, eu fazia bico pAra ajudar e ela passava direitinho. Quando menos esperei, ela começou a passar o mesmo batom no meu olho e na minha bochecha e eu não pude nem  reclamar.

Ficamos a tarde inteira brincando juntos e ela não pediu mais pra ir para casa dos avós, o que me deixou feliz.

Perto da hora que ela costumava dormir, ela pediu pra que eu contasse uma história, e eu me surpreendi. Era a primeira vez que isso acontecia, já que geralmente sua babá quem fazia isso. Mesmo sem saber direito as histórias de princesas, eu disse que lhe contaria todas as histórias que ela quisesse, e me sentei perto de sua cama.

-Qual a primeira? - perguntei.

-Conta da Cinderela?

-Aaah a Cinderela - suspirei - A Cinderela era uma menina linda, loira, que era usada pela madrasta malvada dela. A bichinha limpava o palácio inteiro e a nojenta da madrasta nunca estava satisfeita. Aí um dia teve um baile ali perto e a madrasta disse que a Cinderela não ia, e ela chorou, chorou e chorou. - parei tentando lembrar do resto da história - Ah, aí no dia do baile a fada madrinha apareceu e fez um vestido maravilhoso pra ela, que deixou ela mais lindo do que já era. A fada também fez uma carruagem pra que ela fosse ao baile e disse que ela tinha que voltar até a meia noite porque o efeito da mágica acabaria, ai ela foi pro baile toda feliz - contava animado e minha filha me olhava com a cara de perdida - No fim das contas ela voltou antes da meia noite, o efeito acabou e depois ela ficou rica, saiu da casa da madrasta e virou rainha de tudo lá.

-Papai não é assim não - ela falou inconformada com o fim da história e eu ri.

-Claro que é assim.

-E o príncipe?

-Que príncipe? Ela não precisa de príncipe nenhum ,não. E você é nova demais pra pensar em príncipe!

-Tem príncipe sim - ela falou convicta - Você pulou a parte principal.

-Que parte principal?

-A do sapatinho, pai. Ela dança com o príncipe e depois o sino toca avisando que vai dar meia- noite e ela sai correndo deixando o sapatinho para trás. - começou a me contar toda empolgada e eu só lhe observei - Aí o príncipe sai a procura da dona do sapatinho, e calça ela no pé de um monte de mentirosa, até achar a Cinderela. Depois eles ficam juntos e são felizes para sempre.- falou encantada e eu neguei.

-Feliz pra sempre ela seria se tivesse virado rainha - defendi minha ideia e ela negou.

-Não papai, nunca mais eu quero que você me conte histórias - falou se deitando na cama e eu ri.

-Tô liberado?

-Tá sim, boa noite - se embrulhou e eu me aproximei lhe dando um beijo no rosto.

-Beijo minha princesa - falei ajeitando a sua coberta - Sem príncipe - falei e ela riu, antes que eu saisse do quarto.

Mariele Andrade

As coisas pioraram com meu marido, ele andava cada vez mais distante, cada vez mais frio. Aquilo estava me deixando chateada e sem saber o que fazer. Liguei para minha melhor amiga e desabafei, contei tudo que tinha acontecido, e ela, como sempre sem papas na língua, disse que se ele me negou na cama,era porque a situação estava feia mesmo.

-O que eu faço, mana? - perguntei quase chorando.

-Termina.

-É sério Tanara, eu amo muito o Douglas, não vou terminar com ele.

-Olha, eu não sei. Você vai ter que conversar com ele, ver o que está acontecendo.

-Eu tô com medo.

-Não fica, é bom esclarecer tudo  - disse calmamente e eu fiquei calada - Mas agora me responde outra coisa, você não sentiu nada vendo o Luan depois de tanto tempo?

-Ah Tatá, eu lá quero mais saber de Luan... eu quero é salvar meu casamento.

-Ok, não tá mais aqui quem perguntou.

-Não muda de assunto, me ajuda vai...

-Faz alguma surpresa, um jantar sei lá.. Aí vocês conversam direitinho.

-Boa ideia, vou preparar um jantar romântico pra ele, vai dar certo - disse um pouquinho mais animada, torcendo pra que essa ideia desse realmente certo.

-É, boa sorte - disse antes de desligar e logo eu comecei a preparar tudo.

Saí do escritório mais cedo que o Douglas e fui direto pro mercado, comprar tudo que eu precisaria pra fazer seu prato preferido: lasanha. Cheguei em casa e tomei um banho rápido, vestindo só uma camisa dele, pra começar a adiantar nosso jantar, ou então meus planos iriam por água abaixo.

Montei a lasanha e coloquei no forno, subindo depressa para me arrumar, eu tinha que estar mais linda do que nunca.

Vesti uma roupa simples, mas que eu considerei sexy. Fiz um penteado no cabelo e passei uma maquiagem mais nude. Aproveitei que estava no banheiro e tirei uma foto a postando na minha rede social. Ele não descobriria minha surpresa, porque provavelmente ele já devia estar a caminho de casa.

    mariandrade


mariandrade Dizem que as melhores surpresas estão nas coisas mais simples :x


Voltei para cozinha e tirei a lasanha do forno, colocando em cima da mesa, junto das velas que eu acenderia depois. Coloquei os pratos bonitinhos na mesa e sentei para esperá-lo, em breve ele chegaria, e eu mal podia esperar.

Um tempo depois ouvi um barulho na porta e comecei a acender as velas, continuei sentada na cadeira e não demorou muito pro Douglas me achar.

-Hum, lasanha - disse acendendo a luz e eu ri.

-Apaga amor, é jantar a luz de velas - disse dengosa e ele se aproximou, assoprando as duas velas, as apagando.

-Para de bobagem - riu se sentando na minha frente e outra vez fiquei completamente sem graça, mas também não disse nada.

-Tá com fome? - perguntei e ele assentiu.

-Morrendo - falou passando a mão na barriga.

Me levantei e o servi primeiro, colocando uma fatia grande, já sabendo que ele comeria ela inteira e possivelmente comeria outra.

-Saiu mais cedo? - perguntou.

-Sim, pra te fazer essa surpresa - disse me servindo - Gostou?

-Gostei - sorriu  - Você não é de preparar jantar romântico.

-Pra tudo se tem uma primeira vez - falei voltando a me sentar. - Está gostosa? - perguntei depois que vi ele colocar a primeira garfada na boca.

-Uma delícia - ele disse terminando de mastigar e eu sorri satisfeita.

Ficamos a maior parte do jantar em silêncio, mas eu estava contente em está tendo aquele tempinho com ele. Quando terminamos de comer, ele me ajudou a guardar tudo enquanto eu lavava a pequena louça.

-Nossa amor, você nem disse que eu estou bonita - reclamei secando minhas mãos no pano de prato e só então ele me analisou dos pés a cabeça.

-Nem precisa né? Você sabe que é linda - disse seco, algo que mais parecia da boca pra fora, mas eu me dei por contente.

-Está cansado? Quer que eu te faça uma massagem?

-Não, eu tô bem. Vou tomar um banho - sorriu saindo dali e eu o encarei calada.

O jantar não tinha seguido os rumos que eu esperava, mas pelo menos tinha sido agradável. Fui pro nosso quarto enquanto ele tomava banho e tirei a roupa que tinha vestido, além de desfazer meu penteado. A minha lingerie daquele dia era azul, da sua cor preferida. Sentei na cama e cruzei as pernas, ainda de salto, pra deixar a situação ainda mais sensual.

Alguns minutos depois ele saiu do banheiro enxugando o cabelo, sem sequer olhar pra mim. Tossi chamando sua atenção e ele me olhou, sorrindo de lado.

-Gostei da lingerie - ele falou.

-Especialmente pra você - disse mordendo os lábios e ele riu, colocando a toalha em cima da poltrona que tinha no nosso quarto.

-Fico lisonjeado com isso - caminhou em direção a cama e beijou minha testa. Era isso? Ficaríamos no 0 a 0 de novo?

Não satisfeita puxei ele pela cintura, fazendo ele cair em cima de mim, e disse no pé do seu ouvido que queria o sentir naquela noite. Pra minha surpresa, e maior frustração, ele disse não de novo, alegando a mesma coisa: estar cansado.

Fiquei com vontade de xingá-lo, de perguntar o que estava acontecendo com a gente, mas tive medo, e só fiquei em silêncio, deixando aquilo passar outra vez.

Acordei no dia seguinte com uma dor de cabeça enjoada, porém não podia faltar serviço. Douglas ainda dormia e aquilo me fez lembrar da nossa noite fracassada. Levantei mesmo a contra gosta e fui tomar um banho, já que demorava mais que ele pra ficar pronta.

Saí do banheiro enrolada na toalha e vesti a primeira roupa que achei, não estava muito animada e nem preocupada em estar linda como na noite anterior. Passei uma maquiagem simples no rosto e fui pra cozinha preparar nosso desjejum.

O tempo foi passando e eu pensei que Douglas fosse se atrasar, logo, decidi voltar pro quarto, e bem na porta, vi que ele já tinha levantado, inclusive, estava falando com alguém no telefone.

-Eu prometo, vou falar com ela hoje. - ouvi ele dizendo e senti um arrepio estranho, mas não devia ser nada comigo, talvez algum problema com sua mãe ou suas irmãs.

Voltei pra cozinha e minutos depois ele apareceu, já de terno e gravata. Me cumprimentou com um "bom dia" e nem chegou perto, me deixando outra vez magoada. Comemos em silêncio e depois ele levantou vestindo o paletó.

-Vamos cada um no seu carro de novo tá? - ele falou terminando de beber seu suco, colocando o copo na pia - E ah.. eu queria falar com você depois - disse por fim e eu me tremi inteira lembrando da ligação. Não devia ser nada sério, eu tinha que parar de pensar no pior.

-Ok - assenti sorrindo e ele se foi, sem se despedir.

Cheguei no escritório minutos depois dele e fui direto pra minha sala. Minha cabeça estava a mil, e eu nem conseguia me concentrar direito. Na hora do almoço, ele ligou na minha sala - já que cada um tinha a sua - e me chamou pra almoçar com ele, com medo dele querer ter a tal conversa eu neguei dizendo que estava cheia de coisas pra fazer.

Na hora do lanche, ele também me procurou e bateu na porta centenas de vezes, enquanto eu fingia que não estava. Conclusão, passei o dia fugindo dele, ou melhor, fugindo dessa tal conversa que me causava medo.

Perto da hora do expediente acabar, Douglas entrou na minha sala com tudo, já que eu tinha esquecido de trancar depois da ultima vez que saí para pegar um café.

-Não adianta ficar fugindo - ele disparou a falar e eu o olhei arregalada - Você sabe que o nosso casamento já era. - disse sem dó nem piedade e eu paralisei.

-Não, claro que não, o que você tá falando? - disse ainda em choque.

- A gente já não tem mais aquela coisa, sabe? - suspirou - Morreu... acabou!

-Não fala isso amor, eu te amo - tentei me aproximar mas ele segurou meu braço.- Vamos recomeçar do zero? Vamos, amor? Vamos tentar de novo?

-Não.. eu não quero.- ele disse se afastando.

-Douglas, por favor, não faz isso - pedi começando a chorar e ele sequer me olhou - Douglas... - tornei a chamá-lo e outra vez não obtive resposta - Me fala então.. você tá com outra? - perguntei sentindo as lágrimas rolarem sem escolha.

-Eu não estou com ninguém - ele disse ainda sem me encarar - Mas... eu me apaixonei por outra mulher. - disse com cautela, mas aquilo foi bem pior que levar uma facada, ou um tiro.

-Você não pode estar falando sério - comecei a chorar ainda mais, pegando minha bolsa em cima da mesa, saindo dali as pressas, querendo fugir, sumir do mapa.

-Espera Mariele, não vai assim, você está nervosa. - ele veio atrás de mim mas eu não dei ouvidos. - Mariele, vem aqui - me chamou quando cheguei no estacionamento, mas eu nem olhei pra trás. Entrei no meu carro e saí dali, o mais rápido que conseguia. 

Eu não sabia o que fazer direito, muito menos sabia para onde ir. As lágrimas escorriam sem parar e eu não queria aceitar, ele não podia fazer isso, não podia me deixar assim. Meu Deus, o que eu fiz pra merecer? Quando eu enfim me apaixono de novo... Quando enfim acho que encontrei a pessoa que vai viver comigo pra sempre...

Eu dirigia devagar, e minha mão revezava entre secar as lágrimas - que não paravam de cair - e em segurar firme o volante. Avistei de longe o sinal ficando amarelo e desacelerei, parando um pouco atrás da faixa. Encostei a cabeça no volante e me permiti chorar mais. O que eu fiz de errado? O que faltou em mim que o fez procurar outra pessoa? Ouvi uma buzina atrás de mim e assustada levantei a cabeça, o sinal já tinha ficado verde de novo e os carros foram passando por mim. Acelerei meu carro e fui atravessar o cruzamento, porém não vi o outro motorista que avançou o sinal vermelho no sentido lateral batendo no meu carro com tudo. Houve apenas um clarão forte e depois nada, só silêncio e escuridão.

Notas da Autora:

Só a escritora de vocês para misturar um pouco de descontração com drama. Mas é isso, não vou falar muito. Sei que talvez pareça clichê, mas vem mais surpresas por aí. Comentem bastante por favor. Beijos.
PS: Quero saber o que acharam do modelo do blogger. 

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