sexta-feira, 1 de julho de 2016

Parte 1- Capítulo 20

Cheguei em casa e fui direto no quarto da minha filha. Ela dormia como um anjo. Passei a mão em seus cabelos com cuidado, com medo dela acordar. Luana dormia do mesmo jeito que a Ana costumava dormir, virada de lado com uma mão no rosto. Sorri e decidi descer, pra ver se o sono chegava em mim.

Sentei no sofá e tirei meus sapatos. Me encostei melhor nele e apoiei a cabeça no encosto, me sentia exausto e triste. Olhei para o raque a minha frente e me lembrei do que ficava guardado nele. No mesmo instante me levantei e peguei aquele tesouro nas mãos. Era meu álbum de casamento com a Ana, que sempre me trazia lembranças de um dos melhores dias de nossas vidas.

Flash Back

Meu coração batia forte, minhas pernas denunciavam meu nervosismo. Conversava com todos no piloto automático, já que mal conseguia estabelecer um diálogo de fato. Ana estava atrasada e um medo absurdo me atingia, sabia que todas as noivas se atrasam normalmente, mas esperar não é legal. Nunca foi. Avisaram que ela tinha saído de casa e a vontade de vê-la era enorme. Suava frio dentro do paletó e queria afrouxar a minha gravata, porém não pude. Tentava focar na letra da música, mas já até estava esquecendo devido ao meu nervosismo.

Tinha composto uma música que descrevia nossa história, e tinha demorado um mês pra finalizá-la, para ficar como eu queria. Sabia que ela ia gostar e queria muito ver sua reação. Mandaram a gente começar a entrar e então fiquei mais nervoso ainda. Tinha chegado a hora.

Entrei com minha mãe, que estava bem emocionada. Eu sorria pra todos, mas estava me tremendo todo, não sabia nem como estava caminhando. Parei ao lado do altar e encarei a porta, desejando mais que tudo que ela aparecesse, com aquele sorriso maravilhoso que ela tinha.

Alguns minutos depois a música começou a tocar, o microfone já estava na minha mão e eu me controlava pra não fazer minha voz sair ruim, tremida ou sei lá o que. Comecei a cantar e ela apareceu. Linda. A noiva mais linda do mundo. Eu consegui continuar cantando, mas só porque o meu olhar estava focado no dela, que sorria emocionada.

Leiam no ritmo de CHUVA DE ARROZ

Não esperava o dia que conheceria a dona do meu coração.
Era o lugar de sempre e no meio de tanta gente
Ela me fez perder a razão
Por isso todo mundo passa nas eu jurei que nunca ia passar
E já ouvi dos meus amigos " você tá novo pra casar"
Mas não tô!
Me apaixonei, perdidamente.
E o que eu sei, é que daqui pra frente
Vai ser nossa história, nosso apartamento, 
Nosso telefone, nosso casamento
Sabe o que ouvimos? Não tô nem ligando
Se tá cedo pouco eu tô me importando. (uôô ôôô..) 


Perto de começar a segunda parte da música caminhei até ela, já não controlava mais nada, e minhas mãos visivelmente tremiam. Segurei a mão do seu Jonas e depois voltei a focar nela, que de perto conseguia ser ainda mais perfeita. Segurei sua mãozinha delicada e cantei olhando em seus olhos.

Não esperava o dia que  conheceria a dona do meu coração.
Chegou bem de repente, e um beijo envolvente
Coisa de amor e paixão
E com amizade colorida a gente começou a se apegar
E as pessoas já diziam que isso não ia prestar
E não prestou
Me apaixonei, perdidamente
E  o que eu sei, é que daqui pra frente
Vai ser nossa família, nossa parceria
Nossa incrível vida e as nossas filhas
Então chega mais perto, tô te esperando
Vamos casar e ser feliz por muitos anos (uô ôô..)

Pela carinha que ela fazia, ela tinha gostado. Seu sorriso iluminava aquele lugar inteiro e eu quase não consegui terminar de cantar, por estar louco de vontade de beijar sua boca. Ela beijou minha mão e alisou meu rosto... Como eu sinto falta do carinho dela.

Fomos pro altar e enfim a cerimônia começou. Até hoje me lembro do que ela disse em seus votos. De todas as promessas feitas. Posso não me lembrar exatamente como ela falou, mas de uma parte eu nunca me esqueci, algo que ela disse por último:

- Prometo te fazer feliz e te querer feliz mesmo longe de mim. Prometo a você o meu amor eterno. Enfim, eu prometo ser sua. Porque só assim vai saber,que minha vida inteira, está em suas mãos.

                                                         ---------------x-----------

E esteve. Chorei no dia ao ouvir aquilo, e agora chorava com o álbum na mão. Ela prometeu me querer feliz mesmo longe dela, mas ser feliz sem ela, era muito difícil, e eu ainda estava tentando lidar com isso. Mas me faltava forças..

Acabei dormindo no sofá, e fui acordado pela minha empregada. Levantei meio zonzo e vi que ainda estava com o álbum na mão.

-Bom dia, não queria te acordar, mas não é melhor dormir na cama?

-Que horas são? - perguntei ainda com a voz rouca.

- São 08 horas.

- Então vou tomar um banho.

-Dorme mais seu Luan, o senhor deve estar cansado.

-Meus sogros vem aqui hoje. Prepara um almoço especial tudo bem?

-Pode deixar. - ela sorriu.

Guardei o álbum no lugar de sempre e depois subi pro meu quarto pra tomar um banho. Fiquei em baixo do chuveiro por um bom tempo, pra ver se despertava. Quando saí, escolhi uma bermuda azul escura e uma blusa branca, já que o dia tinha amanhecido ensolarado. Coloquei um boné por preguiça de arrumar o meu cabelo, e depois saí do meu quarto, indo até o quarto da minha filha, que já tinha acordado, e estava sentada no berço, olhando tudo em volta.

-Oi princesa, já acordou? - peguei ela no colo que sorria lindamente.

-Papa- falava ainda com dificuldade.

-Sim meu bem, é o seu papai. Cadê tia Grasi com sua mamadeira? - perguntei e em seguida a babá entrou no quarto. - Olha ela aí. - sorri.

-Bom dia seu Luan, já de pé?

-Pois é.. Pode deixar que eu dou pra ela - me ofereci pra pegar a mamadeira da Luana.

-Não precisa, sua filha já mama sozinha - falou sorrindo e eu me assustei, ela estava crescendo rápido demais.

-Já filha? - perguntei a olhando e ela me encarava, parece que sem entender o que eu dizia. Deitei ela no berço de novo e Grasi deu a mamadeira pra ela, que segurava firme e continuava me olhando. - Ela fica olhando pra você assim?

-Não, ela tá te olhando pra se certificar que você não vai embora - falou sincera e eu senti meu coração apertar. Também não gostava de deixar ela em casa, mas não podia levar ela comigo sempre, muito menos podia largar os shows. A música era meu combustível, e eu gostava muito de cantar.

-Arruma ela com um vestidinho novo, os avós maternos vem visitar ela hoje.

-Arrumo sim - Grasi falou e eu voltei a encarar minha filha, que terminava de mamar.

Alguns minutos depois, dona Maria e seu Jonas chegaram. Eles estavam diferentes, com a aparência mais velha,porém pareciam bem. Cumprimentei meu sogro com um aperto de mão e ele me puxou para um abraço. Em seguida abracei minha sogra que me apertava forte.

 Olhei os dois de novo e depois falei pra que eles ficassem a vontade. Conversamos um pouco sobre a viagem deles, e percebi minha sogra encarando o porta retrato que ficava ao lado do sofá, com uma foto minha e da Ana no nosso casamento. Do outro lado, tinha um porta retrato com uma foto da Luana com 4 meses.

-Cadê nossa netinha? - ela voltou a me olhar e percebi seus olhos lacrimejando.

-A babá está terminando de arrumar ela. - respondi sorrindo.

-Como está sua vida Luan?- meu sogro perguntou.

-Indo - sorri pra ele.

-Você ainda é jovem rapaz, pode aproveitar! - assenti sorrindo. Mas uma pessoa pra me dizer isso...

-Sabe Luan, aconteceu algumas coisas chatas nesse ano. Meu pai faleceu, e um mês depois, a mãe de Jonas também faleceu - ela falou e eu me surpreendi. - Foi um choque, perder outra pessoa especial.

-Eu imagino - falei ainda surpreso. - Por que não me falaram? Queria ir ao velório.

-A gente tentou mas foi tudo tão rápido...

-E como está sua mãe e o pai de Jonas?

-Estão velhinhos Luan, eu morro de medo de perder minha mãezinha, acredito que Jonas tem o mesmo medo em relação ao pai - falou e ele assentiu - Mas a vida é assim, as pessoas se vão, e a gente tem que encontrar forças pra continuar sem elas - falou me encarando e eu assenti sentindo um nó se formam em minha garganta.

Grasi apareceu com Luana no colo. Ela estava uma gracinha, com um vestido rosa. Minha sogra começou a chorar na mesma hora e meu sogro tentava se manter forte. Minha sogra pegou ela no colo e Luana, simpática como era, começou a sorrir.

-É sua vovó, Lulu - falei pra minha filha que encarava a senhora que chorava em sua frente.

-É meu amor, sou sua avó - ela falou passando a mão no cabelo dela  - Meu Deus, ela é a cara da Ana quando mais nova - sorriu pro meu sogro que assentiu - Olha aqui seu vovô - mostrou seu Jonas pra Luana que sorriu pra ele também.

-Fala "oi" pra eles filha - falei e ela me encarou - Fala! - incentivei de novo e ela me imitou.

-Oi - disse baixinho e acabamos rindo.

Dona Maria sentou com Luana no colo, e logo em seguida começou a mostrar todos os presentes que tinham comprado. Luana por sua vez, estava bem empolgada. Eles sentaram com ela no tapete e ela toda serelepe começou a brincar com os brinquedos recém ganhados. Era bom tê-los ali comigo, junto a minha filha. Por mais louco que seja, eu sentia Ana ali perto, e a imaginava sorrindo, vendo seus pais brincando com nossa filha no tapete da sala.

Mariele Andrade

A semana passou corriqueiramente, e eu esperei por uma ligação do Luan, que não aconteceu. Dormia com o celular, e na faculdade, olhava pra ele de hora em hora, pra ver se não tinha recebido nenhuma ligação de um número desconhecido. Droga, ele disse que me ligaria.

Na sexta, já um pouco perturbada, entrei em seu site e fui ver os locais do show daquele final de semana. Como imaginei, teria um em São Paulo, na cidade de Santos. Era perfeito, Uma hora e alguns minutos da minha cidade. Peguei meu celular e resolvi ligar pro Rober, era até estranho falar com ele depois de tantos dias em que ele sequer falou comigo, parece que tinha mesmo desistido de mim.

-Oi Rô - falei animada assim que ele atendeu.

-Mari, tudo bem?

-Tudo. Vai ter show em Santos hoje né? Vi agora.. Você nem me falou.

-Pois é - foi curto e grosso.

-Será que eu posso ir?

-Claro que pode.

- Mas vocês não vão ficar em hotel né?

-Não, a gente deve ir pra cidade do show de amanhã.

-Lá na hora eu consigo comprar ingresso?

-Ah que isso, sabe que te coloco pra dentro.

-Não quero atrapalhar.

-Não atrapalha.

-Então eu te vejo mais tarde.

-Tudo bem.

Roberval estava diferente, mas eu não podia cobrar outra atitude dele. Ele tinha falado que gostava de mim, e eu tinha deixado bem claro que nada aconteceria. Não era fácil receber uma informação como essa e fingir que nada aconteceu. Não gostava de saber que ele estava meio chateado comigo, e eu tinha que dar um tempinho pra ele, mas o problema é que no meio disso tinha o Luan, e eu queria vê-lo de novo, já estava com saudades. Fazer o quê?

Saí do escritório mais cedo e fui pra casa me arrumar. Como sempre, só sabia que tinha que estar mais do que linda. Tomei um banho rápido e arrumei meu cabelo com cuidado. Minha mãe entrou no quarto e a primeira coisa que fez foi perguntar pra onde eu iria. Quando lhe falei, ela balançou a cabeça e disse pra eu não deixar as coisas fugirem do controle, mas já tinha fugido.

Vesti um macaquinho e tirei uma foto. Queria que Luan soubesse que eu estava indo a seu encontro, e que ficasse me esperando, já que não tinha outro jeito de lhe falar, pois só quem tinha o meu número era ele.

                   mariandrade


mariandrade E eu decido de última hora que preciso de outro show seu! Fã que é fã sempre quer mais. Mais música, mais dança, mais sorriso.


Peguei a chave do meu carro, calcei uma havaiana, e desci com o salto na mão e uma bolsa pequena na outra. Meu coração já batia forte, estava indo encontrar o "meu" cantor.

Cheguei em Santos perto das 21 horas, liguei pro Rober e ele foi me encontrar no portão de trás, falando pro segurança deixar eu passar com o meu carro. Antes de descer eu calcei meu salto e retoquei o meu batom. Desci e encarei Rober, que sorriu sem jeito pra mim.

-Tava com saudade de você, cabeçudinho - falei enquanto lhe abraçava.

-Sei - riu - Cadê sua amiga inseparável?

-Sabe que eu nem sei, nem falei pra ela que viria, ela vai me matar - rimos.

-Olha, eu tenho que resolver umas coisas rápidas, mas pode indo lá pro camarim - falou tirando um pulseira do bolso e colocando em meu braço - Já te encontro.

-Ok - falei sorrindo.

Caminhei a passos rápidos pro camarim, meu coração já começou a bater mais forte. Mal via a hora de me afundar em seus braços, e brigar com ele perguntando porque não tinha me ligado. Well me cumprimentou com um aperto de mão e depois abriu a porta pra eu entrar. Luan estava sentado em frente ao espelho, arrumando seu cabelo. Olhou pra mim e abriu um sorriso.

-Olha se não é a Mari - levantou vindo em minha direção. Me deu um abraço forte e beijou o meu pescoço. A porta do camarim se fechou e só então percebi que estávamos sozinhos. - Você a cada dia mais linda não é? - Me encarou dos pés a cabeça e eu sorri sem jeito. - Vi sua foto e faltei jogar confete de alegria ao saber que te veria - alisou meu rosto e eu sorri de novo

-Se tivesse me ligado a gente podia ter se encontrado antes.

-Oh linda, minha semana foi corrido. Fiquei em São Paulo, mas cheio de coisas do DVD pra resolver - falou me puxando pela mão, me fazendo sentar no sofá que tinha ali.

-Eu entendo. Como você tá?

-Bem melhor agora - ele falou passando a mão por trás de mim - E louco de vontade de aproveitar que estamos sozinhos aqui - passou a mão em meu cabelo - Pena que seu batom é escuro- cheirou meu pescoço e eu me arrepiei toda.

-A vida não é tão fácil assim, cantor - brinquei e ele riu.

-A vida é fácil, a gente que complica - passou a mão na minha boca, e em seguida olhou pros dedos - Uai, esse batom não suja? - perguntou e eu neguei rindo - Isso sim é obra do destino - me puxou com tudo pra um beijo e eu me entreguei de cara.

Foi então que a porta se abriu e nós nos afastamos depressa. Rober nos encarava desacreditado. Olhei pro Luan que limpava a boca completamente sem graça. Já eu.. não sabia se falava algo, ou se simplesmente ia embora dali.


Notas da Autora:
Deu ruim, Rober chegou. O que vocês acham que vai acontecer nesse camarim? Esse capítulo tem uma mistura de nostalgia com surpresa, gosto assim! Agora me tirem uma dúvida, quem lembrava dessa versão de Chuva de Arroz que fiz pro nosso casal? Coloquei pra gente matar a saudade.. Mas então, em meios a lágrimas vem as tretas, e se preparem pois elas estão só começando.. Posto depois de 20 comentários. Beijos lindaas!

PS: Pra quem perguntou o nome da música que usei no capítulo passado... Dei seu nome a uma estrela do Hugo e Tiago

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