sexta-feira, 1 de julho de 2016

Parte 1 - Capítulo 52

Começou a amanhecer, e eu pude observar isso pela fresta da cortina que estava aberta. Nem eu nem Luan falávamos nada, mas minha cabeça estava repousando em seu peito. Levantei a cabeça para lhe encarar e percebi que ele ainda estava acordado. Sorri sem graça e ele passou a mão em meu rosto suavemente, enquanto me observava com esmero, com um sorriso melancólico nos lábios.

-Não tá pensando em fugir não é? - ele perguntou e eu ri negando.

-Não teria como mesmo se eu quisesse - falei voltando a repousar minha cabeça em seu peito nu.

-Que bom.. mas para garantir, eu vou te apertar - disse me envolvendo em seus braços fortes, aonde adormeci e dormi maravilhosamente bem.

Acordei primeiro que ele no dia seguinte e como não tinha como me levantar, velei seu sono por algumas horas. Foi inevitável não pensar em tudo que tinha acontecido na noite anterior, do carinho que ele teve, do prazer que ele conseguia me dar. Consequentemente meus pensamentos foram mais longe... me lembrei de cada show, cada momento, cada encontro e o pior deles não ficou de fora. Ele pode sim ter mudado, mas um dia ele me enganou na maior cara dura, sem se importar com os meus sentimentos, e isso ainda me deixava insegura. Dessa vez eu ia ser mais precavida.

Depois de tanto pensar, ele enfim abriu os olhos, os fechando em seguida, mas abrindo um sorriso e me abraçando forte.

-Tá aí me vigiando a muito tempo? - perguntou abrindo um olho só, lutando para conseguir acordar de verdade.

-Aham - falei sem muitos detalhes e ele me encarou com os olhos que entregavam que ele havia acabado de acordar.

-Pensando no que ? - colocou a mão na minha nuca, jogando todo meu cabelo pra trás e eu no mesmo instante tirei suas mãos.

-Nada demais - falei suspirando - Eu... queria ir pra casa hoje.. - sorri sem graça.

-Mas hoje tenho outro show, você não quer ir comigo?

-Eu... só quero ir pra casa - desviei meu olhar do seu e ele assentiu calado.

-Tudo bem... está com fome? - perguntou se sentando na cama e eu assenti ainda sem o encarar -Vou pedir alguma coisa pra gente - se espreguiçou antes de sair da cama, completamente nu, o que me fez tampar o rosto com o travesseiro e ele rir da situação.- Cê também ainda tá pelada viu? Só pra te lembrar. - ele falou rindo.

-Na verdade eu estou coberta.

-Por enquanto - ele riu com malícia e eu tirei o travesseiro do rosto o encarando. - Você vai precisar de ajuda pra se vestir né? Ou vai querer que eu peça pra sua amiga vir aqui?

-CRETINO! - Gritei jogando o travesseiro nele, que desviou rindo de mim.

Luan primeiro vestiu sua roupa e quando caminhou na minha direção eu o parei, falando que achava melhor que ele chamasse minha amiga, e pra ela eu explicaria tudo depois. Ele ainda tentou me descontrair, mas não deu certo, eu realmente queria muito sair dali e ir pra casa.

Luan Rafael

Mariele acordou estranha depois da noite incrível que tivemos, e o pior de tudo foi eu não  saber o que fazer para acabar com aquela situação chata que se formou no quarto. Como ela pediu eu chamei sua amiga e logo ela chegou, com sorriso malicioso no rosto, o que deixou Mariele bem mais constrangida. Até saí do quarto, mas quando voltei percebi que ela ainda parecia um pimentão.

-Eu quero ir embora, vamos comigo? - Mari perguntou pra Tatá que fez careta.

-Pensei que fossemos ficar...

-Se quiser ficar tudo bem.. eu .. dou um jeito - deu de ombros.

-Eu não vou usar o jatinho agora, posso te deixar em casa. Quer? - me intrometi.

-Não - ela disse sem pestanejar - Eu acho que vou ligar pro meu pai, pedir pra ele me buscar..

-Vai demorar pra ele chegar aqui amiga.. deixa.. eu vou com você. - Tatá falou.

-Não. Você tem seus planos e eu não quero estragar,

-E eu não vou deixar você sozinha, Rober vai entender - Tatá disse por fim e ela assentiu, enchendo os olhos de lágrimas, mas virando o rosto por lado para que eu não visse. Tarde demais... - Vou arrumar minhas coisas tá? - Tatá disse antes de sair e ela assentiu, ainda quieta.

Quando a porta do quarto se fechou eu sentei na cama e segurei suas mãos.

-Eu sei o que se passa na sua cabeça.. você odeia o fato de estar incomodando.. mas nós somos seus amigos e estamos aqui pra te ajudar. Isso tudo é só uma fase, e está prestes a acabar - falei alisando suas mãos com cuidado e ela me olhou rindo, mas ainda com vergonha.

-Obrigada, Luan. Obrigada mesmo.

-Enquanto sua amiga arruma tudo vamos comer né? - falei e ela riu assentindo.

Não demorou para o nosso desjejum chegar, e nos deliciamos em silêncio, um tanto quanto confuso. Minhas memórias me traziam lembranças perfeitas da noite passada, e isso era bem mais real quando eu podia a olhar na minha frente, tão de perto como ela estava.
                            ...

Depois que Mariele foi embora, eu fui fazer meu show normal, ainda tentando entender porque de um dia pro outro ela ficou tão estranha. Dentro da van, o Rober me mostrou uma música de uma cantora nova, junto com Henrique e Juliano, ele disse que estava viciado na música e eu curioso quis escutar. A melodia dela já me envolveu e a letra... eu senti que era minha, ou melhor, minha com a Mariele, porque nos descrevia demais...

Resolvi então ligar para ela, e pra minha surpresa ela não atendeu. Talvez ela tivesse dormindo.. ou talvez ela tivesse me evitando mesmo.

Quando voltei pra casa, passei pra buscar minha filha e ela me abraçou falando que estava com saudade e prometeu que não ia me fazer companhia, já que eu estava triste... Engraçado, Luana tem apenas 5 anos mas me conhece muito bem. Sabe quando estou triste, alegre, animado... ela sabe tudo, e sem ela minha vida jamais seria a mesma. A verdade é que eu realmente estava abatido. Mariele não me atendia, e nem respondia minhas mensagens.. mas isso não ficaria assim.

Na quinta, Luana pediu pra que eu fizesse um churrasco, já que ela queria comer carne assada, e nesse mesmo momento, eu tive uma ideia... Acho que estava passando da hora da minha filha e da Mari se conhecerem... quem sabe assim ela volte a me tratar normal. Falei para Luana que faria sim o churrasco e que ia chamar uma pessoa. Ela não me questionou, e disse que tudo bem.

Deixei Luana com a babá e fui ao mercado, comprar as carnes, passando para buscar Mari em seguida, de supetão. Tatá quem abriu a porta e ficou feliz ao me ver, falando que a amiga precisava mesmo sair de casa. Entrei no quarto da Mari e vi que ela ainda dormia. Sutilmente me sentei na beirada da cama e comecei a chamá-la. Ela resmungou, e eu chacoalhei seu corpo fazendo ela se espreguiçar.

-Que foi, Luan? - ela perguntou ainda sem abrir os olhos.

-Vim te buscar.

-Buscar pra quê?

-Pra sair comigo. Ou não somos mais amigos?

-Somos.. AMIGOS - deu ênfase na palavra amigos e eu ri.

-Então vamos amiga, dar uma volta... quero te apresentar uma pessoa.

-Não sei, queria ficar em casa - falava ainda sonolenta.

-Mas não vai, você já ficou em casa demais...

-Ta bom.. acho que posso fazer esse sacrifício de sair da cama - falou se sentando sozinha, me encarando com o rosto todo amassado.

Minutos depois estávamos a caminho da minha casa, e ela me questionava para aonde eu estava a levando e quem era a pessoa. Eu fui enrolando, enrolando... até enfim parar em frente ao meu portão.

-Essa é... sua casa?

-Sim. Vamos lá?

-Luan..

-Vamos! - falei sem esperar ela hesitar, e a peguei no colo, sentando-a em sua cadeira logo em seguida, empurrando ela pra dentro da minha humilde residência.

-Nossa, sua casa é linda de verdade..

-Gostou?

-Muito..

-Então vamos ali pra eu te apresentar uma pessoinha - falei empurrando sua cadeira até a área de lazer e ela corou, de certo já sabendo de quem se tratava.

-Lu? - a chamei fazendo a me encarar, e na hora ela olhou pra Mariele  - Vem conhecer a amiga do papai.-  a chamei sorrindo, parando na frente da Mari, e minha filha continuou séria, sem esbanjar reação nenhuma. Não uma que eu compreendesse.

-Oi Luana - Mariele falou quando ela se aproximou, e minha filha abraçou minhas pernas, sem mostrar um sorrisinho que fosse.

-Fala oi - eu cochichei e ela fez que não com a cabeça - Anda Luana, você não é assim...

-Tudo bem, sou estranha ainda né? - Mariele tentou puxar papo, e outra vez minha filha fez que não ouviu.

-Pai? - Luana me chamou baixinho e eu a encarei sério, completamente sem graça pela sua falta de educação. - Porque ela anda nesse negócio?

-É que eu sofri um acidente Luana - Mari explicou e eu fiquei sem jeito com a pergunta da minha filha - Aí eu não consigo andar com minhas pernas.

-Pai... - ela ignorou Mari e voltou a dirigir-se a mim, que agora estava muito.. muito sem graça. - O senhor disse que ia brincar comigo hoje..

-Por que você não chama a Mari pra brincar com você - falei tentando entrosar as duas - Ela é mulher, deve saber brincar melhor do que eu.

-É verdade, e eu amo boneca - Mari falou rindo, tentando fazer com que Luana se soltasse.. Mas eu juro que não estava entendo porque ela estava tão estranha, ela era tão aberta com meus amigos...

-Mas você nem consegue levantar, como vai brincar comigo? - Luana falou pra ela, que deixou de sorrir toda constrangida, me deixando três vezes mais constrangido.

-Que isso, Luana? Que falta de educação... Vai pra lá vai, estou muito chateado com você - chamei a atenção da minha filha que me soltou e saiu com raiva.

-Tudo bem, Luan. Ela é uma criança e deve estar com ciúmes do pai. Isso é normal.

-Mas eu não posso deixar ela te tratar assim, não foi essa educação que eu dei.

-Mas não briga com ela que aí você só piora.

-Claro que eu vou brigar.. onde já se viu.. - falei indignado, empurrando a cadeira da Mari pra outro lugar, pra que ela ficasse perto de mim.

Fiz o churrasco com Mariele por perto, que apesar de tudo ainda continuava meio estranha comigo. Não queria tocar no assunto da noite que tivemos, mas sabia que isso teria que acontecer. Almoçamos juntos na mesa que ficava na área de lazer, e minha filha agora estava de mal de mim. Eu nem adulei, afinal, o que ela fez foi muito feio e merecia ser conversado com mais calma em outra hora.

Depois de enfim estarmos satisfeitos, levei Mariele pro estúdio que tinha na minha casa, com a ideia de quebrar gelo, e certamente descobrir porque ela tinha mudado tanto comigo. A princípio conversamos coisas aleatórias e mesmo assim, ela mal conseguia me encarar. Desconfortável com tudo, eu sentei em uma cadeira de frente para a dela, e a encarei.

-Que foi ein?

-Do que você tá falando? - ela perguntou nervosa, já mexendo no cabelo.

-Por quê você tá estranha comigo? Porque não me responde nem atende minhas ligações? O que foi que eu fiz dessa vez?

-Você não fez nada... só que.. eu ando querendo ficar na minha.

-Isso não é verdade, você tá estranho porque a gente transou.. mas eu não te forcei a nada, eu nunca te forço a nada..

-Não tem nada a ver. - ela falou com a cabeça baixa e eu encarei o violão atrás dela, me lembrando da música que Rober tinha me mostrado. Ouvi ela muitas vezes, então já sabia tocar e cantar.

Levantei e peguei o violão, sentando de frente pra ela outra vez, que me encarou sem entender. Não me sentia preparado para falar nada, e talvez nem tivesse as palavras certas para a convencer de que aquele nosso impasse tinha que acabar. E por falar em Impasse... Olhei o violão por segundos e comecei a tocar, soltando minha voz suave em seguida.

Eu só queria entender seus pensamentos
E o que realmente tá rolando
E o que te faz fugir de mim
Te juro estou tentando ler seus olhos
Mas percebo que disfarça e não consegue me encarar

Senta aqui um pouco sem ter pressa
Conta tudo a hora é essa
Fala o que tem pra falar
Não é que eu tô querendo do meu jeito
Eu me ajeito no seu jeito
Basta a gente conversar

Você diz que não
E eu acho que sim
Você não se entrega seu medo de certa, 
Te pega e te joga pra longe de mim
Eu acho que sim
Mas você diz que não
Resolve esse impasse e assuma pra gente essa louca paixão

Me abraça e me beija
Que eu tomo conta de você!

Cantei ora de olhos abertos, bem dentro dos seus, ora de olhos fechados, pensando em como aquela letra era realmente feita pra gente. Sentia que tinha um impasse no nosso meio, mas também tinha paixão.. se não tivesse, o nosso sexo não teria acontecido, não do jeito que foi... porque foi diferente, eu sabia que tinha sido especial.

-Deixa eu tomar conta de você, Mari? - pedi a encarando, apoiando meu braço no violão e ela riu, abaixando a cabeça envergonhada.

-Tem paciência comigo, por favor..

-Eu sei, é como diz a música. Não é o jeito que eu tô querendo, eu quero me ajeitar no seu jeito.. Mas se você ficar fugindo eu vou atrás, não tem jeito - falei rindo e ela me encarou, abrindo um sorriso também.

Ficamos mais um tempo ali, aonde ela pediu pra que eu cantasse mais para ela. Como uma fã - que ela assumiu que nunca deixou de ser - ela pediu que eu cantasse música antigas, sobretudo do meu primeiro DVD, aonde vivemos momentos de nostalgia por mais de uma hora, até ela pedir pra eu a levar embora. A levei embora, e ela não se despediu da minha filha, pois a mesma tinha ido dormir. Achei até melhor, tinha medo da Luana falar outra coisa estúpida e  me deixar envergonhado de novo. Do mesmo jeito ela pediu que eu mandasse um beijo pra minha filha, falando que ela era ainda mias linda pessoalmente... Ai minha nossa, linda é você, Mariele.

Voltei para casa me sentindo bem melhor, sabendo que agora tudo estava resolvido, e que era questão de tempo até todo o medo bobo dela evaporar. Assim que entrei em casa vi Luana sentada no chão comendo bolo. Joguei a chave na mesa de centro e encarei minha filha, que estava emburrada.

-A senhorita não tem motivo pra tá com essa cara não, eu que tenho que estar nervoso aqui.

-Eu não disse nada demais, ela não podia levantar mesmo - deu de ombros e eu fiquei nervoso.

-Olha aqui Luana, mesmo que Mariele tenha sofrido um acidente que não deixa ela levantar e andar, isso não dá o direito a ninguém de ficar jogando isso na cara dela.. Já é muito difícil pra ela enfrentar isso, ela não precisa de ninguém para colocar ela pra baixo. Existem coisas que não precisam ser ditas, e isso é uma delas.. Você não gosta quando brincam com você falando que vai ficar banguela quando seus dois dentes caírem, não é? - a encarei de braços cruzados - Funciona do mesmo jeito pra todo mundo, a gente não pode falar pras pessoas o que elas não gostam de ouvir.

-Eu já entendi papai, estou errada.

-Está mesmo, muito errada. Quero que peça desculpas pra ela depois.

-Tá. Posso pedir desculpas, mas ainda sim não gosto dela. 

-Por quê? Ela te deu motivos pra isso?

-Deu.. por causa dela você está brigando comigo...

-Estou chamando sua atenção Luana, sou seu pai, não posso te deixar fazer esse tipo de coisa.- sentei no sofá ainda a encarando - Olha filha, não precisa ter ciúmes do papai, eu sempre vou amar você, mesmo quando estiver errada, tá bom? - falei mais calmo e ela levantou vindo sentar no meu colo, se aconchegando em meu pescoço.

"O amor nasce de um olhar, cresce de um carinho, alimenta-se de um beijo, produz um pequeno ciúmes, vive de um sorriso, morre de ingratidão e ressuscita com um perdão!"

Notas da Autora:

Eita que esse encontro foi tenso, Luana foi super mau educada e mesmo que ela se desculpe, acho que definitivamente ela não foi com a cara da Mari. E vocês? O que acham que vai acontecer? Queria agradecer a Anna que me mostrou essa música da Marília Mendonça com participação do Henrique e Juliano que se chama Impasse. Hoje ela me salvou, estava completamente sem ideia. Por hoje é isso, ainda bem que deu tempo de postar pra vocês.. Beijos!

PS: Acredito que todo mundo aqui é viciado em fanfic então tenho uma recém saída do forno pra indicar, é da minha gauchinha, vamos ler juntas? Me leva amor.

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